ELA SÓ QUERIA UM PARABÉNS
Ruía as unhas da mão como se esperasse que gritassem seu nome num concurso da loteria. Olhava pros lados, passageiro por passageiro, tentava imaginar o que pensavam. Se pudessem ler o pensamento dela iriam ter uma overdose de informação, pois pensava em todo seu dia (ou existência) a cada segundo, porem o que mais a afligira era o seu aniversario comemorado naquele dia, bem comemorado não seria a palavra que ela usaria, mas era recordado naquela data, ou quase recordado. Completara naquele dia 32 anos, era meia noite e um, recebe a primeira mensagem, de um amigo distante que provavelmente estava acordado assistindo TV e carinhosamente lembrou-se dela. Começou o dia bem, pensou que seria um dia de total comemoração, levantou tarde, deu 2 horas de sono de presente a si mesma. Tomou café, sentiu um gosto diferente, era pratica acordar, escovar os dentes, pentear os cabelos e fazer o café, sempre as 3 colheres de chá, mas o gosto dessa manhã não vinha do café, vinha de seu coração, era um misto de solidão num mundo superlotado. Bem, acreditava que era deprê de aniversario, a mesma que pegava todo mês, normal! Saiu de casa, foi encontrar algumas amigas na rua, ficou ali por horas, parecia uma criança esperando uma brecha pra falar, “olha hoje eu faço aniversario”, ou alguém lembrar, abraçar e fazê-la importante como nunca se sentira. Presentes não queria e sabia que não ia ter, mas se viesse seria de bom grado. Despediu-se, envergonha por não ser tão marcante ao ponto de suas amigas lembrarem de uma data única para ela, mas entendia, a rotina dos dias impedira a maioria das pessoas de sentirem afeto, ou demonstrarem amor pelas outras. Se preparou para encontrar seu amor, que lhe prometerá uma noite especial de aniversario, passou o dia apagando o desgosto sofrido com a lembrança dele, a cada ligação, a cada amiga e amigo que encontrará e não lembrava dela, era ignorado quando recordava dos beijos, carinhos e esforço que seu amor faria por ela. Romântica como todas as mulheres também preparava um presente pro seu amor, foi de espírito aberto, ao menos seria tratada especialmente por aquele que passaria o restante da vida. No caminho em direção ao seu amor o telefone tocou era sua mãe, falara de sua dificuldade em gerir o lar, mas não lembrará de seu aniversario. Relevou, falou; “- há, talvez um dia eu também esqueça o aniversario da minha filha.” Entre alguns pensamentos, parou e se perguntou; “porque é tão importante um aniversario?” Ela mesmo se respondeu, precisava de um dia especial para ter razão de viver os outros, precisava recarregar sua ternura para distribuir ao seus pares, precisava estocar elogios para dividir esperança, precisava de uma declaração de amor a ela feita pelo mundo para não declaração guerra a ele. O encontrou, abraçou, recebeu parabéns, beijos e muitos carinhos, e... só. O amado não teve condições de mais nada, isso já estava bom demais, foi o que de mais carinhoso e atencioso teve em todo o dia, satisfeita não estava, mas feliz por compartilhar aquele dia especial com ele, mesmo sem grandes alardes! Ela voltava, a cada ponto seu olhos enchiam de lagrimas, mas não sabia de fato porque queria chorar, se era por estar ou se sentir só, porque suas amigas não lembraram dela, ou por querem expelir sentimentos reservados desde a infância, derramar na terra, compartilhar com ela os sonhos, vontades, ansiedades, trocar com a terra a força que ambas detinham. Recebeu mais uma ligação, era de uma amiga que sabia que não a esquecia nem em Marte, ajudou e talvez tenha sido suficiente, ainda no ônibus sentia um aperto, um presságio, algo estranho. Desceu naquela avenida principal, seguiu a rua, escura pra variar, abriu o portão, andou pelo corredor, viu ao chão alguns confetes, seguiu, pegou a chave, abriu a porta e... PARABÉNS, mais de 50 pessoas a esperando, seu amado, mãe, irmãos, amigas e amigos, porem uma mão toca suas costas levemente cutucando-a, ela se vira assustada e com o sorriso mais largo que já deu e ouve;
- Moça chegou, aqui é o ponto final!