O PAPA ANDOU DE BUZÃO NO PARANÁ - Lia Lúcia de Sá Leitão - 20 /092010
Ofereço essa historinha pitoresca para o meu querido amigo Engenheiro e Psicólogo Marco Aurélio Sartori.
Tenho o bom costume de ficar horas navegando pela internet procurando algo inusitado, principalmente quando se refere ao Paraná, na verdade, amo essa Terra de chão vermelho como se fosse minha de nascimento, mas o Nordeste me buscou nessa encarnação e não posso negar as raízes, mas também não posso me esquivar do cheiro de campo que podem ser aquele dos canaviais, da colheita da cana, do mel de engenho ou mesmo de vinhoto cheiro ardido que vem da bagaceira.
O que me encanta é aquele mar de ondas leves e verdes lindo! bailando ao sabor do vento que varre a Zona da Mata pernambucana, Nazaré da Mata, Carpina, ou, os campos de soja que cobrem as terras de Cascavel, Campo Mourão e exalam um cheiro de terra vermelha umidecida pela brisa fria do campo.
Quando estou em minha terra, colhendo informações de fatos divertidos ou pitorescos, encontro os mais diversos contadores de casos maravilhosos, pessoas simples que falam como sabem e sabem que por mais maravilhoso que o fato seja jamais será enganação, mentira ou fantasia, sim, lá é terra que o inusitado acontece, todos tem um conhecido que viu e esse conhecido é cabra de falar grosso e arrancar um cabelo do nariz e assegurar a verdade.
O mais interessante aqui, nas bandas do Sul é que também existe o inusitado, as historias, os homens de bigode e as falas nos erres também, a roda do chimarrão, a viola campeira, a gaita de oito baixos, o maravilhoso também está presente na memória do povo simples, mas ninguém comenta, é como se fosse segredo de guerra, família de sobrenome esquisito, fortuna que atravessou o oceano, riqueza que só a consciência dos daqui podem saber pela metade para não divulgar entre os outros um segredo de comadre.
As histórias pitorescas também existem no Paraná, existem de vero vero como me falou um italiano da terra campeira, mas com a ressalva, a memória do povo é curta e cai tudo no esquecimento de um dia aconteceu, o causo se passou, faz tanto tempo que a música raiz ainda era tocada nas rádios difusoras. Nem me faça lembrar, eu tenho uma mera recordação do caso passado, eu sei que essa história existe mas não sei ao certo como aconteceu, nessa época a Professora fez todos os alunos da minha idade aprender Hino de Cascavel para cantar em coral para o PAPA; as desculpas são tamanhas que me despertaram ainda mais a curiosidade e fui buscar alguma fonte de informação nos mais velhos, mergulhei em horas de pesquisas pela internet, e aqui estou.
Encontrei o que eu sonhei numa dessas noites de frio intenso, que o corpo enrosca nas cobertas e a gente fica sem saber no que pensar.
Durante três anos que ando nessas lindas terras paranaenses colhendo histórias de assombrações, costumes, lendas, um dia abri um livro que veio do Nordeste para complemento de um desses apontamentos e olha lá, as fotos amareladas pelo tempo da vinda do Sumo Pontífice Católico ao Brasil.
Lembro que nessa época eu estava em Recife, andei quilômetros com cadeira, isopor, bandeirinha de Roma, terço, tudo que era previsto para receber o Papa que ali estava em visitas pela primeira vez. Olhando aquela foto despertou-me a curiosidade de saber em quantos Estados o Papa beijou o chão e abençoou a terra e o povo. Lembrei que o Papa móvel era o must brasileiro, vidros à prova de balas, conforto pra todo lado, motorista especializado em manobras radicais, era o primeiro passo de liberdade brasileira fazendo barreiras para vencer a ditadura militar.
Li em todos os jornais que o povo brasileiro irmanou-se com aquele homem carismático que falava um português embolado, mas todos entendiam. Tinha alguma coisa de santo naquele homem!
Vi inimigos se abraçarem, políticos comunistas levantarem bandeirinhas católicas, um homem quem tinha dito que ele trazia o número do inimigo na lapela chorar como criança, e ateus pedirem a Deus que o Papa fosse o homem da Paz.
Eu vi coisas que meus olhos duvidaram, mas os milagres existem e devem ser espalhados, transmitidos, e assim aconteceu no Paraná, o Papa é realmente POP, dispensou o seu carro luxuoso, a comitiva dos cheleléus , aqueles panacões de plantão que adoram tirar fotos com celebridades, aqueles fanfarrões que são capazes de besliscar a bunda de alguém à sua frente para ficar em posição de destaque. Todo mundo esperando em seus carros pretos de comitiva oficial de Estado pelo Papa que deu um trote nos babacões e se abodegou num ônibus, e andou de ônibus, numa escania da empresa Viação Garcia, um Diplomata Scania motor B 111, que nem era novo já tinha três anos de uso.
É inacreditável que poucos conheçam essa história, quem estiver em Londrina vai à matriz da Viação Garcia, na cidade de Londrina – PR, lá tem um galpão que reúne as relíquias do passado da empresa uma parte da História da cidade, é lá que existe um caminhão Ford TT transformado na "Catita", a primeira jardineira da empresa e assim sucessivamente até o ÕNIBUS SANTO, vou chamá-lo de o PAPA BUS, O ÔNIBUS QUE SUA SANTIDADE ESCOLHEU PARA DAR AQUELE PASSEIO INUSITADO
Enquanto na década de 80 o Brasil vivia algumas alterações sócio-políticas e econômicas, as estrelas globais subiam no cenário, os políticos apareciam sempre como bons democráticos, a MPB travava uma metáfora libertadora pelas campanhas das Diretas, as madames se orgulhavam dos progressos das cabeleireiras e manicures, das novelas da TV em cores, sem contar a evolução das mais variadas empresas de cosméticos que deixaram a Avon para as classes menos esbanjadoras, as madames além das fofocas elogiavam pelas linhas telefônicas a desenvoltura e posições empresariais dos maridos. Justificando o parágrafo, tudo era uma lambição de STATUS.
Foi a benção!
O Paraná apesar das futilidades da época guardou um orgulho inusitado e verdadeiro, aquele ônibus em que o Papa escolheu para dar uma voltinha em Curitiba que tornou-se mais famoso que o próprio presidente da República na época, e venceu até as provocações dos argentinos que ganharam a copa do mundo, tudo era coisinha insignificante, por aqui se dizia: los hermanos levantaram a Copa mas o Papa é POP andou de ônibus como qualquer Zé da Silva do povo brasileiro.