CONTO DE NATAL
Já viveu em orfanato
Teve muitas mães, pais, irmãos
Sem ter nenhum, de fato
Até que tomado de emoção do momento
Alguém lhe dá um lar
Onde começaria novo tormento
Foi numa noite de natal
Este alguém, vestido em espírito igual
Deu-lhe a ilusão
Comprou-lhe bonecas, ricos vestidos
Esquecendo de aquecer-lhe o coração
Deu-lhe enfim, uma família
Por que é que tendo tudo
Lindo quarto, comida farta
A menina continuava muda
Triste em tão rica mobília?
Continuava a dormir sem um beijo
Sem ter alguém lhe contando uma história
Orava e sonhava, em desejo
De ter de verdade, pai, mãe, irmãos
A sua memória...
Até que também em noite de natal
Tomada pela emoção e intuição
Saiu às ruas, em inocência
Não notavam sua presença
Viu vitrines, em luzes enfeitadas
Sonhando pelas calçadas
Seguiu as luzes em total carência
Quando já não podia mais caminhar
Cansada, com fome, sem lar
Olhos perderam a cor da esperança
Fecha-os, faz descansar
Adormecida, em sonhos de criança
Quase morto, seu corpo em penar
Em prece, vê rostos, um lhe é familiar
Figuras etéreis envoltas em suave luz
Um toma-lhe pelas mãos e conduz
Apresenta-lhe tua mãe
Corpo nesta hora despede-se de vez...
A menina acordou em noite especial
Nos braços da mãe, num conto de natal
DIANA LIMA, ITANHAÉM/SP