Contos do eremita: O mestre de armas. [parte 4]

"Hora do julgamento, meio orc Siegfried". contou o eremita e ali parou por um instante. Parece que disse aquilo de um jeito tão sinistro e com um olhar tão estranho por baixo do capuz que ele próprio chegou a ponderar se não foi de mais. Suspirou co um ruído estranho e continuou.

O primeiro golpe da figura foi devastador. O pobre meio orc apenas viu tudo se desfazer em fumaça e recebeu uma pancada por trás que o jogou para o fundo da caverna e o fez soltar a tocha. A tocha não importava tanto agora, a monstruosidade da figura enorme sobre ele brilhava mais que o suficiente para iluminar a caverna. O medo ainda implorou para que ele desistisse da loucura que estava prestes a fazer, mas orcs não atendem aos gritos histéricos do medo. E gritando ele investiu com tudo o que tinha para a figura, e começou uma luta, apanhando muito e não acertando nenhum golpe, e sendo jogado brutalmente contra as paredes da caverna. Algo como um suspiro de lamento tomou conta da caverna. Pareceu um suspiro de dragão, se é que dragões suspiram.

- É só isso que tem a oferecer, meio orc Siegfried?

- E o que você quer que eu ofereça? Aliás, o que é você?

- Eu sou o espírito de uma lâmina lendária, forjada no início dos tempos, e você tem de oferecer seu destino para me ter. Descubra meu nome, se não for estraçalhado antes disso.

E a luta recomeçou.

E o eremita descreveu uma luta como um poeta descreve o sentimento em pessoa, se é que ele é uma. E parou por outro instante com o suspiro e o ruído estranho. Talvez quisesse lembrar-se bem do que iria acontecer a seguir.

O desespero é uma arma forte, desespero é grande apelo. Desesperado estava o aspirante a orc. Sua espada havia sido estraçalhada, o sangue parecia mais escorrer sobre seu corpo do que correr dentro das veias. Mas a lâmina do desespero já havia sido afiada o suficiente para cortar o silêncio daquela luta. E o meio orc ficou maior que a figura por um instante, desviou de alguns golpes e segurou a tocha (ainda estava acesa). Pôs a mão na tocha, e fogo não queimou, avivou-se. O fogo avivou, a criatura da espada parou, o orc bradou:

- Espírito da espada antiga, grandiosamente poderoso. Se é meu destino dobrar-te, não tenho poderes para tal agora. Mas se é meu destino dobrar-te, posso apelar para algo superior. Curve-se a seu superior, pois é este quem eu invoco. Invoco o senhor do fogo, criador dos orcs, filho primogênito dos dois grandes deuses da lenda antiga, Kagutsuchi! Por ordem de Kagutsuchi, dobre-se, espírito da espada lendária, Gran!

E não era mais um orc. Era o avatar do senhor do fogo, uma criatura de fogo que dobrou a figura da espada como uma folha, e surrou-a até figura e espada voltarem a ser espada. A espada foi domada, o avatar se foi, e ali ficaram jogados, espada e orc, companheiras inseparáveis a partir de então.

Continua...

P.S.: Bem, consegui refazer... acho que ficou no mesmo nível, hehe.

P.P.S.: Valeu mesmo aí povo da leitura, principalmente a Tia Z que tá até me assustando com os comentários, um susto bastante agradável! Em compensação tocarei o solo de flauta do bolero de ravel.