LEMBRANÇAS DE UMA SALA...
A sala era linda, ampla, iluminada pelos ráios de sol
daquele dia. As paredes, de uma brancura virginal. Os móveis
limpos e os porta retratos organizados simetricamente sobre
o aparador quase negro. Diziam que era madeira de lei.
Não havia cheiro naquela sala ampla. Os candelabros de prata
sustentavam suas velas apagadas. Nenhum sinal. Nada que
denunciasse vida naquele lugar. As cortinas imóveis, escondiam
a ferrugem no peitoral das janelas. Como um flesh, me veio
a imagem de algumas crianças, gritos, algazarras, tilintar de copos,
passos frenéticos sobre a tábua corrida que cobria o chão da sala.
Sentei-me silenciosamente sobre uma cadeira e fixei os olhos
nos porta retratos. Alguma coisa de muito familiar havia ali.
Insisti uma, duas, varias vezes, até que vi o rostinho de uma
menina, uma feliz menina recostada no ombro de seu pai.
Lembrei-me já com o coração aos pulos, de uma sonata de
Beethoven, no dia em que recostei no ombro de meu pai para
aquela fotografia, que ali ficara por anos e anos. De alguma forma
eu permaneci naquela sala e eu ainda era filha de meu pai.
Ainda era a feliz menina da fotografia. Não havia mais algazarra,
tilintar de copos, passos frenéticos. Todos se foram.
Mas de alguma forma, eu permaneci ali. Imóvel, silenciosa, como
parte da decoração e das lembranças, que, sem perceber,
me trouxeram de volta para aquela linda sala, ampla, iluminada
pelos raios do sol, porém, vazia. Todos se foram, restando apenas
o carinho inérte, a vida presa na fotografia...