Um conto poético
O NASCER DE NOSSO CONTO
(segunda-feira 3, de outubro de 2005)
I
O sol brilhava alto no céu
Mais ardente que ele eram nossos beijos
Meus dedos caminhavam entre seu véu
Seus lábios famintos fartavam meus desejos.
O ápice da beleza traduzia-se em seu corpo
Eu me via refletido nos olhos castanhos
Conjunto divino e torpor
Infindáveis atributos sem tamanhos...
Calor estridente do dia
Nem em semelhança se compara
Ao apaixonado fogo que ardia
Em nossas almas se queimava!
A tonalidade morena
À minha pele sobreposta
Perfazia uma ligação plena,
Tenaz, por uma sensação composta.
As poucas nuvens nos contemplaram
Espectadoras de nossas caricias
Os pássaros juntos entoaram
O canto da inocência às nossas malicias;
Pequenas flores, vossas irmãs gêmeas
Testemunharam os doces cortejos
A ti atribuí os maiores adjetivos das fêmeas
Admirando-te nos diversos ensejos.
Abrigo de teu carinho era meu coração
Suas mãos percorrendo meu rosto
No âmago de tua atenção
Sentia um indescritível bom gosto.
Ao inalar seu perfume
Fui envolvido por todo o encanto
E de modo sublime
Fui coberto por teu manto.
Seu abraço de ternura
Perpetuou-se em minha memória
Ó momento mágico de fulgura!
Suscitou nossa historia.
II
O FINDAR DA FALSIDADE ILUSÓRIA
Sucubus infernal
Ardendo inflamado
Enfeitiçou-me de forma cabal,
Demônio sedutor alado!
Levou meus beijos
Pesadelo? Sonho? Realidade!
Enganou-me com os gracejos
Envolveu-me na vaidade!
Hoje não me encontro, cá estou?
Perdido de paixão, desejo carnal.
Minha inocência teu corpo levou
Tua língua envenenou-me com o mal.
E a destra de meus presságios
Estão teus pensamentos efêmeros
O “calculismo” me custou pedágios
Transitei por vias dos piores gêneros.
Sinto tua falta, Diabólica cortesã.
Sumiste e deixou-me à Luz do luar,
Confundiu minha mente, que antes sã,
Agora está perturbada, louca a te procurar.
Maldito o dia que veio a ter comigo,
Deitou em meu leito a desgraça,
Tornei-me hospedeiro, do teu mal sou abrigo,
Perdi a visão nessa nuvem de fumaça.
E a noite fria me espera, lembranças!
O nascer de nosso conto foi lindo
Éramos um, eu em teu seio, inocente criança.
Beijava seus lábios com meus olhos sorrindo;
E agora tudo terminou, o fim ordinário.
Terrivelmente sofro, choro por ti.
Lágrimas de meu rosto hilário,
O qual você zomba, menospreza e ri.
III
O FIM SÓ COM A MORTE
Hei de conformar-me tão facilmente?
Eu, que passo pelo “Vale da sombra...”
Jamais! Em meu amor ainda sou crente!
E o espectro do inferno não me assombra!
Teus amantes e admiradores, quem são?
Fragilizado peço que aguarde meu retorno.
Sinto o teu pranto, ouço o teu frigido coração,
Bate descompassado, sem beleza, sem adorno.
Deplorável encontra-se teu estado!
Ah sua infeliz, quantas vezes lhe alertei;
Quantos conselhos tenho lhe dado;
E quanto de minha atenção, não lhe dei?!
Ouviste-me? Não, pois me abandonou!
Era o fim então, tudo o que você quis!
Desistiu de seu sentimento, me deixou
Às margens de um rio de lamento;
Às sombras de uma floresta escura,
Selvagem, com animais famintos e sedentos,
Atormentado pelos castigos da amargura,
Meu sangue foi sugado com meus lamentos!
Enquanto isso, no deleite do pecado,
Aos gemidos de prazer, estavas tu, na boemia!
Sem pensar, sentindo teu corpo penetrado,
Sem amor, só mentindo, a si mesmo traia!
Então, chorando você recordava,
De meus lábios doces que lhe tocavam,
Dos cortejos proferidos por quem te amava,
De nossos dedos que se entrelaçavam;
O mundo incomparável de minha elegância,
As virtudes que de ti eu realçava
Perdidas pelo teu orgulho e arrogância!
Surgiu o luar de terror, o belo dia terminava...
Vivo, sem ti, por mim, somente vivo...
Não sei mais por que, nem pra quê,
Por quem?Sem emoção, somente digo:
- Quisera eu poder viver por você!
Vivemos! Eu te vejo, todos os dias,
Sentada, olhando para o nada, à espera;
Incansável, pensando em novas vias
Com um sorriso glacial, frio que aglomera;
Vivemos ainda, na noite que me eternizou,
No memorável dia de nosso encontro,
No ressuscitar da era que me marcou,
À espera, estou, tu estás, neste conto...
O fim é a morte! Você sobreviveu,
Eu sobrevivi, então vivemos, perpetuaremos.
Tenazes, até o limite, envolvidos pelo breu,
O escuro da cova, até os confins chegaremos.
Morra e serás livre de meu amor!
Inesquecível, sei bem, porque sinto de ti.
És minha deusa e eu teu senhor
E assim será enquanto vivermos aqui!
Rafael L. Ribeiro.
(19/9/06)