O Retorno do Cruzado
 
Após tantos anos em batalha, retorna o cruzado a sua humilde casa.

Amor e honras o esperam no seio de sua família, destroçada por tanto tempo de sua ausência, mas ansiosa e esperançosa de seu retorno. E mais uma vez após tantos anos de privação os porcos e patos morrem e caem nos espetos, os barris de vinho e hidromel são novamente destampados e o alaúde e a rabeca voltam a cantar.

São canções alegres para acompanhar as batidas das botas na madeira do salão, e não mais as canções de tristeza e saudade que se entoavam nos jantares de mingau e alho poró, não mais, não agora que o cruzado está de volta a sua casa.

Sua espada jaz majestosa pendurada na parede de pedras às suas costas, abaixo do brasão da família, que mais uma vez enfeita o salão, após tantos anos enrolado e empoeirado.

E aos poucos, aquecido pelo calor da fogueira e do amor de sua saudosa amada, e após o abraço caloroso de seu pai, que acabara de ver seu filho morto tornar à vida, o cruzado pode sentir, lentamente, o sangue do inimigo escorrer de seus dedos, que se vêem novamente limpos e puros, como outrora.

E antes do fim da noite, em que compartilharia, após tantos anos, o leito de sua esposa, o cruzado fita longamente sua espada e seu brasão e quase não consegue esconder dos alegres convivas as lágrimas que escorrem por sua barba longa e esbranquiçada, lágrimas que brilham ao refletirem o fogo precioso que queima na lareira.
 
070910
Fábio Codogno
Enviado por Fábio Codogno em 07/09/2010
Código do texto: T2484155
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