A lição do cão.
Caminho por entre a gente, que de tão distraídos com seus afazeres, nada fazem, a não ser se preocupar. O tempo aliado do conhecimento parece nunca envelhecer ao contrário dos transeuntes que quase me atropelam com seus passos apressados, seus rostos iguais e rótulos que o transformam naquilo que geralmente não o são. Bem, quem sou eu pra avaliar o caráter do ser pelo que ele veste, se são eles mesmos que se rotulam e formam grupos de opiniões? Ah sim, são de opiniões diversas. Avaliam com os olhos, julgam com os pensamentos e nos condenam com suas estatísticas. Há uma grande maioria também que vive num cárcere dentro de seu próprio lar, enquanto ao meu está á céu aberto. Andando por aí deparei com uma prisão pitoresca em forma de mansão, até espantei-me e fiquei a imaginar qual teria sido o ‘crime’ acometido por tão pomposas pessoas. Enfim, nem deveria espantar-me, afinal de contas o meu maior crime é ser eu mesmo, que a olhos rotos pareço não mais do que um lado ruim da praga urbana que infesta a rua. Não diria igualmente aos pombos pois há quem jogue migalhas a eles; ou ainda os cãezinhos que vivem com sarna e pulgas, apesar da aparência ainda há as ong’s preocupadíssimas com o bem estar dos animais irracionais que não sabem cuidar-se sozinhos. Nem vou tocar no item politicagem, afinal de contas eu sou somente uma estatística ruim. Mas vamos falar um pouco de momentos felizes, pois sei que ainda os tenho. Certa feita estando eu com muita fome, fitava o céu como a rogar ao Pai um alimento qualquer que fosse pois estava á muito perambulando pela minha casa e nada achava; foi quando me apareceu um cãozinho doente em condições mais penosas que eu com um saco na boca e colocou aos meus pés. Fitava os meus olhos com um carinho que em nenhum ser humano ainda havia encontrado. Abaixei-me e abri o saco e nele havia ração de cachorro, sem cerimonia reparti o alimento inesperado entre eu e este, que é hoje meu melhor companheiro pois sem perguntar: meu nome, se eu estava com fome, nem ligar se eu era humano ou cão, repartiu o alimento do dia dele comigo. Foi o momento em que eu me senti mais humano do que nunca.