A psicologia da vida

A menina ainda jovem, beirando os 18 ou 19 anos, encontrava-se sentada em um sofá caramelo numa pequena saleta. Era bem decorada e sobre ela pairava um ar assustador. Seus olhos comumente castanhos, e escuros, agora estavam cor de mel. Suas mãos suavam frias e suas pernas não conseguiam conter-se tremendo em frenesi. O telefone soava calmo, entretanto freqüentemente e logo era atendido pela voz da recepcionista. Tão suave que chegava a ser irritante.

Catherine era seu nome! Mirava o quadro a sua frente com certa fixação sem desgrudar os olhos do brilho do luar refletido nas águas. Tal quadro foi pintado com tanta maestria que a fazia imaginar que estava dentro dele, olhando o mar. Esse fato, porém, de maneira nenhuma a fazia sentir-se mais calma. Pelo contrário, a deixava ainda mais ansiosa. Divagava... Pensava e corria tropeçando pelas penumbras de seu intimo, que por sua vez era ainda inexplorado por outra pessoa que não fosse ela mesma, Catherine.

A porta de madeira se abriu com um ranger suave, como tudo naquele lugar irritante mente plácido. A voz da psicóloga fez a jovem sentir-se como se guardasse borboletas no estômago, não aquelas de quando se está apaixonado, mas aquelas de quando se faz algo errado e se é descoberto. “Fico feliz em vê-la Catherine”... Ela não poderia dizer o mesmo, odiava psicólogos.

Entrou e viu o divã conhecido de muitos anos, cinza e muito confortável, meramente ilustrativo. Não gostava de sentar-se ali, nenhum dos pacientes gostava. O conforto faz com que as pessoas fiquem mais vulneráveis quando elas mais sentem necessidade de parecerem fortes. Mesmo depois de muitas seções de terapia (ou tortura, como quiser chamar) ela ainda se sentia tão ou mais receosa do que na primeira vez.

Contou suas histórias, respondeu às perguntas com a frieza de sempre, revoltou-se diante de algumas vezes... Suas mãos ainda suavam, seus olhos ainda corriam em fuga a todos os lados, suas pernas ainda não haviam parado de tremer. Foi julgada de todas as formas e escutou conselhos de modo a, como sempre, não ouvi-los e não segui-los. Não foi dessa vez que a psicóloga a convenceu de que ela, com sua expressão angelical, era um diabinho gerador de caos, uma mera idealista quimérica que nunca alcançaria seus objetivos. Uma rebelde sem causa buscando salvar o mundo.

Ela saiu do consultório mais leve, porque livrou-se do insosso e da mesmice de suas consultas. Voltou para casa caminhando, comeu um pedaço de chocolate e aproveitou de toda a dopamina que ele a proporcionou. Dormiu bem aquela noite, e acordou bem porque apesar da psicóloga ainda tinha ideais pelos quais viver, e sabia que aquilo só se repetiria no próximo mês.

PRAZER, MEU NOME É CATHERINE

Sah
Enviado por Sah em 01/09/2010
Código do texto: T2473078
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.