O PORTÃO AMARELO
Eu sabia que havia chegado quando avistava a casa do portão amarelo.
A viagem parecia longa demais.Ficava enjoada com o cheiro do ônibus, às vezes não muito limpo, ou talvez fosse o óleo diesel.Enfim, era um alívio a descida na parada da cidade.
O caminho comprido, ladeira abaixo...E lá estava a cerca , entrava e saía ano,a tinta já descascada e desbotada pelo tempo.
Grades brancas nas janelas, uma varanda limpa, de chão vermelho encerado,e uma rede que balançava com o vento.Nela eu me deitava e ficava ainda mais nauseada...
O quintal parecia comprido , e por entre um gramado mal aparado, lajotas faziam uma trilha e era por elas que eu passava até o barracão.Mais ao fundo algumas árvores, e uma escadinha que dava na cozinha.
Um pequeno jardim abrigava joaninhas e sapos à noitinha.
O barracão era um mistério. Qdo esqueciam a porta aberta podia entrar e sentir o cheiro, que mais tarde soube ser de palha, misturada com tintas e líquidos de pintar porcelanas,tinha sido um local de trabalho, um ateliê desativado.Aquilo me fascinava!
Hoje volto à mesma cidade.Não sei se está lá ainda a casa do portão amarelo, mas existe uma outra casa, em outro lugar, e lá sim desejei muito morar um dia...
Ando por lugares onde vivi, e parece nada ter mudado.As árvores cresceram, a cidade parece um pouco mais apertada, só.
A escola na mesma esquina, a parada do coletivo no mesmo lugar.A doceria , a farmácia , tudo lá, como se não se permitisse a passagem dos anos . Ali é o meu quintal...
Preciso voltar para onde habito. Só habito.Nada além de habitação...
Agora sei que não tenho uma casa, não tenho mais onde viver...