PIC-NIC
PIC-NIC
Os prazeres e divertimentos antigos, parecem tolices e pouco convidativos para a geração atual, mas a simplicidade que regia o modo de vida das pessoas era saudável e todos se divertiam muito com as coisas até um pouco ingênuas, como brincar de roda ao som de melodias e versos simples, pular corda, jogar peteca, passar anel e muitas mais.
Essas brincadeiras não eram só para as crianças, porque os rapazes e moças também brincavam e era oportunidade para um inicio de namoro simples e ingênuo como era de uso, mas se as tardes eram preenchidas com essas brincadeiras, a noite era a hora das serenatas românticas ao som de violões e com lindas canções cantadas por belas vozes.
Mas o mais apreciado evento daqueles tempos singelos, era o pic-nic, convescote ou coisa que o valha: as famílias escolhiam um lugar no campo onde houvesse uma boa nascente de água potável, com arvores para refrescar o ambiente e preparavam listas onde cada dona de casa, escolhia o tipo de comida que iria levar, sempre tudo combinando.
Se uma levava frango assado, outra se encarregava da farofa, do arroz de forno ou do tutu de feijão no capricho e todos levavam frutas e doces, mas bebidas alcoólicas eram proibidas, líquidos só café, leite, suco de frutas e a água da nascente, era tudo na maior paz, mas coisas divertidas sempre aconteciam nesses alegres encontros de amigos.
As toalhas eram seguras com pedras ou troncos para não serem levadas pelo vento e a comida coletiva era ali colocada e todos se serviam a vontade; mas certa vez uma família nova na vizinhança foi convidada para participar do pic-nic de Seu Leuterio, mas ninguém sabia que eram pessoas sovinas, que não sabiam dividir nada.
Eles levaram um pacote de biscoitos de polvilho, mas não o colocaram junto com a comida e permaneceram o tempo todo comendo com uma das mãos e segurando os biscoitos com a outra até o final e quando resolveram voltar, levaram os biscoitos de volta sem oferecer para ninguém, claro que nunca mais foram convidados para nada.
Em pic-nics acontecia de tudo, como o dia em que Seu Lamartine resolveu exibir seus conhecimentos de latim e foi assim: logo que chegaram ao campo escolhido ele abriu uma colcha no chão, se assentou, olhou a linda paisagem e disse: Dominis est in ipso loco { O senhor está nesse lugar}, poucos minutos depois se levantou gritando.
A colcha fora colocada sobre um formigueiro e ao ser atacado por elas, Seu Lamartine encerrou o assunto dizendo: Ressurextis, non est hic {Ressuscitou, já não está mais aqui} As risadas foram inevitáveis e essa tirada de Seu Lamartine jamais foi esquecida, em todos os pic-nics seguintes, contavam esse causo e riam a valer do coitado.
Tempos de brincadeiras alegres, bons tempos que se foram e jamais voltarão, mas agora os divertimentos são outros, a mentalidade é outra e todos se ajeitam dentro da nova realidade, porque o passado já se foi, o futuro está por vir e o presente é o que se tem; o melhor é manter a alegria e acompanhar os novos tempos, ou ficar de lado e só.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA