QUEM TEM PRESSA COME CRÚ
QUEM TEM PRESSA COME CRÚ
É comum se ouvir dizer que a pressa é inimiga da perfeição e prima da decepção, mas na verdade é um pouco pior do que isso, porque os apressados sempre dão a cara a tapa, se aborrecem com os insucessos, choram e rangem os dentes, depois que as coisas saem erradas por culpa da malfadada pressa, como tudo nesse mundo a pressa faz parte.
Quando uma pessoa se dispõe a ser candidata a qualquer coisa, começa a correria: corre para angariar fundos, para arrebanhar eleitores, para fazer coligações e para agüentar almoços e jantares de campanha; nessa labuta além do desgaste físico, tem também o desgaste financeiro, porque campanhas eleitorais precisam de muito dinheiro.
E lá vão os candidatos, prometendo resolver coisas possíveis e impossíveis, distribuindo tapinhas nas costas dos eleitores e beijinhos nas crianças, tudo no estilo de políticos de todos os tempos, porque políticos são todos iguais, só muda o endereço, mas o povo adora ser enrolado, acreditar não acreditam, mas fingem que sim e batem palmas.
Geralmente as vitórias eleitorais são comemoradas depois da abertura das urnas e a contagem dos votos, então explodem os foguetes, as bebidas são distribuídas com fartura pelos eleitos, carreatas são organizadas e gritos e vivas são ouvidos, tudo isso para o povão, porque suas excelências brindam elegantemente com champanhe.
Tudo isso é o normal, mas em certa eleição um dos candidatos resolveu inovar e promoveu a festa de comemoração da vitória na véspera do dia da votação; ele tinha tanta certeza que ia vencer que colocou carros de som nas ruas da cidade, convidando o povo para o comício da vitória e a festa depois dos discursos e assim foi feito.
Foi um sucesso, os discursos do candidato e de deputados visitantes foram muito aplaudidos e o resto da noite foi uma alegria só, com muita comida, bebida, musica e muitas bandeiras agitadas ao vento; o povo cantou, dançou, comeu e bebeu a vontade, mas na hora de votar, virou a casaca e votou maciçamente no adversário que foi eleito.
Foi uma decepção e uma enorme tristeza para o candidato derrotado e seus correligionários; para piorar o que já era péssimo, ficou o prejuízo com o enorme gasto feito com a festa da vitória que não aconteceu, mas outras eleições virão, outras festas serão feitas, mas que fique a lição: de véspera só se mata o peru, mas não se come, porque pode dar indigestão.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA