Ameaça Silenciosa
Sair do trabalho no meio da tarde é muito bom.
Ando no meio da multidão apressada, passo em frente a catedral sempre caminho na última fileira da escadaria assim posso caminhar com meu scarpin sem problemas.
Em 10 minutos estou em casa. Jogo a bolsa em cima da poltrona, vou tirando os scarpins e a roupa e vou direto para o banho.
Ainda estou penteando os cabelos quando o telefone toca insistente.
-Alô?
Ninguém responde.
-Alô, alô?
A pessoa do outro lado da linha não responde e não desliga. Fico em silêncio por um momento tentando ouvir alguma coisa.
Ouço apenas uma respiração abafada e o silêncio.
Desliguei. Quem quer que fosse não queria falar nada. Talvez apenas ouvir minha voz, mas quem? Meu telefone é novo, de uma operadora nova. Quase ninguém além do pessoal do trabalho tem meu número.
Foi o suficiente para pensar em todas as hipóteses: Quem faria isso? Por qual motivo? Pensei que pudesse ser algum homem interessado em mim que ligou e não teve coragem de falar, uma mulher que tem ciúmes do marido e acha que eu tenho um caso com ele e quer me incomodar, ameaçar, mas uma mulher com raiva não ficaria calada, meu ex-marido, meu ex-namorado, o homem que me assedia no trabalho, um homem que me segue na rua? Quem? Meu namorado tem o costume de me ligar para dar um toque apenas para que eu saiba que ele está pensando em mim, eu faço o mesmo com ele. Pode ter sido ele.
Ligo para meu ex-marido. Não foi ele. Para meu trabalho, ninguém de lá havia me ligado. Para meu namorado contei o que houve, não foi ele que ligou.
Deve ter sido algum engano. Volto a minha rotina. No outro dia chego em casa mais ou menos no mesmo horário e o telefone toca novamente.
No primeiro momento fiquei congelada. Não sabia o que fazer. Atendi e não falei nada, fiquei apenas tentando ouvir algo que me ajudasse a identificar de onde estavam falando.
Depois de alguns minutos desliguei. Saí de casa na mesma hora, olhava para trás com a sensação de que alguém estava me seguindo. Fui a uma loja e comprei um identificador de chamadas, voltei apressada e instalei o aparelho no meu telefone. Assim saberia o número de quem estava me ligando.
Sábado e Domingo o telefone não tocou. Pode ser alguém que está ligando para minha casa usando o telefone de alguma empresa.
Penso muito que pode ser meu colega de trabalho. Mas qualquer pessoa falaria comigo, não entendo o silêncio do outro lado da linha.
Na segunda-feira logo que abro a porta do apartamento o telefone toca. olho o número no identificador, não é um número comum, não é da minha cidade, parece ser do RJ ou do exterior.
Pronto. Meu ex-namorado.
Eu o deixei, disse que voltaria mas simplesmente desapareci. E sei que ele anda a minha procura.
Mas meu telefone é novo, como ele poderia saber o número? Se está com raiva ou quer falar comigo qual o motivo do silêncio?
Liguei para a operadora. Me informaram que o número é sigiloso.
Liguei para a delegacia anti-sequestro.
-Você precisa fazer o seguinte: anote todos os dias e horários em que recebe as ligações. Espere a pessoa fazer contato. Se houver alguma ameaça você nos procura.
Passamos horas e horas meu namorado e eu tentando desvendar o mistério. Imaginamos todo tipo de conspiração, vingança, trote, mas nunca chegamos a uma conclusão.
Anotei dia e hora das ligações, sempre por volta das quatro da tarde. Liguei para o número, mas a ligação não completava. Um mês se passou e ainda não identifiquei quem está me ligando.
Hoje vou atender e vou tentar falar com quem está ligando, pode ser que seja alguém precisando de ajuda.
-Alô? Quem é você? Posso ajudar em alguma coisa? Fale comigo, por favor! Se você quer falar comigo estou aqui para ouvir o que você tem a dizer.
Silêncio.
Agora que falei com o desconhecido meu medo foi embora. A curiosidade não.
Uma semana depois, sábado onze da manhã o telefone toca. Olho no identificador. É ele!
-Alô?
Um ruído alto como se alguém desbloqueasse algo, uma chave virada, um ruído e finalmente uma voz:
Uma voz feminina.
-Alô aqui é do Banco Ibis...