O Olho do Gato

Apreciava a vista do alto do 12º andar. Acaso fosse dia, veria o azul do mar encontrar com o céu na linha do horizonte e alguns barcos coloridos, que daquela distância, pareceriam apenas brinquedos. A vantagem de estar no terraço da cobertura, era a vista privilegiada que tinha do céu, sem interferências de outros prédios. As estrelas pareciam escassas, "culpa" da poluição. O céu ainda mostrava algumas nuvens, mas a lua estava diferente do habitual. Seu brilho amarelado a fez lembrar um olho de gato, visto na escuridão. O olho de um gato caolho, dono de pêlos tão escuros, quase azul profundo. Olho que observava e via tudo o que acontecia dentro de sua cabeça.

Sentou-se sobre o parapeito sem olhar para baixo e balançou as pernas no abismo. Com os olhos fechados, sentiu o vento lhe acariciar, enquanto murmurou uma canção. Estava trêmula, o medo subia por suas pernas como água gelada, ergueu-se e permaneceu de pé sem apoio algum para as mãos. Precisava dançar, queria ser uma bailarina do ar e o olho do gato, sua única platéia, não aplaudiria no final. Finalmente olhou para baixo. Era pouca a movimentação na rua e sentiu o coração dar fortes pancadas, ansiando e temendo o que estava prestes a acontecer. Abriu os braços e suspirou, inclinou-se para a frente e mergulhou de encontro ao concreto. Toda a dor que sentia e todos os seus desejos encontraram um final.