Um sonho
As tensões se acalmaram diante do episódio.
Soldados se preparavam para o campo de batalha, fuzis, balas, mantimentos... Mato, cercas, inimigos.
Tentados pelas desgraças sangrentas do ser humano, partimos em direção ao combate. Atentos ao inimigo do outro lado de nós, preparados para matar ou morrer simplesmente.
No caminho, tudo parecia calmaria, mas, de repente, eis que o inimigo salta a nossa frente, ficamos pasmados diante de tudo isso.
- Que susto!
- Ufa! Que bom que os encontramos. Disse o meu compassa.
- Parado aí, cambada, não se mexa, disse os nossos inimigos.
- Nada, amigos, parem um pouco, temos algo a fazer, esqueçam essa maldita guerra, vamos lá!
Diante do súbito momento, eis que saltita a nossa frente, um pirralho barulhento.
- Peguemos este inseto. Pensei.
- Ele é raro, disse o camarada.
Saltemos na busca do bichinho. Esquecemos a guerra por esses instantes e demos glória a nossa euforia. Ouvimos, mais uma vez, o falastrão inimigo:
- Parados!
Mas como inseto não houve, continuou a sua pularia. Pula praqui e prali. Parecia está dançando ao som das desgraças dos tiroteios da maldita guerra, ou está intencionalmente chamando-nos para dançar ao som da vida.
Deixemos as desavenças e esquecemos a batalha. “Travou se luta terrível naquele mato de espinho”. Nada. Foram muitas tentativas sem sucessos.
Vamos cara! Siga-nos peguemos este bichinho!
O grilo saltitou como um malabarista, e nós, não sabemos o motivo, mas corremos desesperadamente atrás daquele infeliz.
- Levantamos a bandeira branca. Deu-se uma trégua na infelicidade de todos nós.
- Podemos conseguir, dizíamos.
Juntaram-se a nós mais três indivíduos famintos. Bicam aqui, e ali, nada.
Acirrou a luta, murmurei. Corremos para aprisionar um maldito inseto insignificante, que para estes três, significa a sobrevivência. Dura e difícil por aqui.
Cair no meio do festival como uma criança, ou um goleiro no futebol improvisado, jogado com bolas de sacos. Pulo aqui, e ali e logo, a surpresa:
- Peguei!
Correram todos para ver. Era uma “Esperança”. Presa em minhas mãos. Senti um pouco absurdo o tamanho, impressão minha talvez.
Juntaram-se todos para ver, queriam olhar o precioso bichinho e talvez saberem se valeu a pena deixar de lado uma possível destruição e se dedicar à captura de um inseto.
O que nos fez correr atrás desse atrevido bichinho?
Então eu abrir as mãos, voaram penas ao ar, e um passarinho voou sem direção, a caminho da liberdade, as penas soltas faziam um baile magnificente... Quão bela são as plumas pairando, numa coreografia similar à felicidade do homem!?
A conquista da liberdade é assim, podem arrancar nossas penas, mas mesmo assim, partimos com o sorriso no coração.
Há episódios pequeninos que nem as piores coisas do mundo podem apagar a beleza da nossa apreciação.
Açodei de punhos fechados e fascinado com as lembranças de um simples sonho. Surreal, talvez.