Noiva em Fuga
Olho ao redor, umas 100 pessoas distraídas não se dão conta da minha presença.
Mães com filhos, garotos conversando, meninas desfilando. Observo tudo como se eu não estivesse ali, como se estivesse vendo tudo através de um espelho.
Observo gestos, olhares, como as pessoas se vestem, como gesticulam, observo os solitários e penso se realmente são pessoas solitárias ou estão ali sozinhos apenas naquela noite.
O solitário, o homem realmente solitário procura estar junto das multidões, é um modo estranho de se sentir vivo, de sentir que faz parte de uma sociedade, de algo maior.
Mas no fundo sabe que é um engano, a solidão está dentro dele, está no olhar triste, na metade amputada de si mesmo, no amor arrancado de seu destino, da tristeza que sente ao ver uma cena real e simples como um casal andar de mão dadas, do namorado que tira alguns fios de cabelo do rosto da namorada.
A solidão está impregnada na alma.
Reconheço logo um deles. Sinto pena. Alguns são tímidos, outros fizeram opções erradas na vida.
Uma senhora na mesa quase ao lado da minha conversa com um jovem que deve ser seu filho. Conversam animados enquanto o lanche é servido.
Ele está de bermuda. Não deixo de notar pernas belíssimas. Logo minha atenção é desviada para um homem que chega e se senta na mesa em frente a minha.
Quando volto a olhar a mãe e o filho sumiram.
Á noite. Bar Ilhéus, toda quinta eu e Karize gostamos de dançar, conhecer pessoas.
Quando vou ao banheiro sozinha dou de cara com o jovem do shopping. Em segundos tive uma ideia.
-Olá, tudo bom?
-Olá, tudo. De onde você me conhece?
-Nos conhecemos do shopping, você não lembra?
Ele fica desconsertado, não consegue lembrar de mim. Eu acho tudo muito divertido, como um brincadeira de criança que não faz mal a ninguém. Queria experimentar o que sentem os homens quando estão na caça, quando atacam e tentam seduzir uma mulher, quais táticas usam e como se sentem quando conseguem conquistar a eleita do momento.
Ele certamente não lembra de mim, mas finge que conhece. Entra no meu jogo de sedução.
E se entrega.
Vamos dançar juntos, ele passou a noite me olhando e falando:
-Puxa mas como pude não lembrar de uma garota como você.
Namoramos um três meses e nada de sexo. Era muito divertido nosso relacionamento, mas quando chegávamos no meu apartamento ele ficava só no beijo e me deixava pensando.
-Ou ele tem algum problema ou é diferente de todos os outros homens que conheço. Os outros mal ficam sozinhos comigo logo querem me devorar.
Um tarde de Domingo fomos passear de Bug, ele está como sempre carinhoso, paramos numa praia em Coqueiros para ver o mar.
Ficamos dentro do carro, sentindo o sol olhando o mar e ouvindo Marina Lima.
Então ele me disse:
-Adoro você, mas preciso falar algo muito sério.
Ficou muito sério e imaginei algo muito grave.
-Eu sou gay. Por isso nunca tivemos sexo, eu não consigo. Adoro você, adoro estar com você. Sinto sua falta, penso em você todos os dias, mas não quero iludir você mais.
Minha reação foi fingir que estava tudo bem.
-Tudo bem, Marcelo. Ficamos amigos, eu também adoro estar com você. Vamos nos encontrar sempre só que daqui pra frente como amigos.
Mas não fiquei bem não. Passei algumas semanas tentando entender o que aconteceu, como eu não notei nada. Como pude ser tão cega ou ingênua.
Depois de semanas de luto resolvi deixar um novo amor curar aquela dor.
Conheci o Marcos.
Nunca gostei dele. Nada a ver comigo, mas é engraçado, quanto menos gostamos dos homens, mais eles se sentem atraídos.
Conheci a família dele e logo depois, dois meses de namoro ele me pede em casamento.
Eu não quero festa, nem vestido branco, nada. Quero apenas viver com ele.
No dia combinado o interfone toca insistente.
Minhas malas todas no meio do apartamento.
Pensei no perfume dele que me causa enjoo, um perfume verde Sr N.
Pensei que passaria o resto da vida ao lado dele sem amá-lo.
Atendi o interfone e disse que não queria mais. Ele ficou enfurecido, tive que chamar a polícia. Logo o escândalo estava resolvido.
Desfiz as malas e comecei minha saga de Noiva em Fuga.