O mapa de um coração
Era uma vez uma moça matemática e contadora. Era encarregada pela auditoria contábil de uma empresa de transporte urbano.
Gostava do que fazia. Gostava de assumir responsabilidades. Porém, sentia que algo faltava....
Talvez, pelo fato de trabalhar com controle, gostava de estar no controle...
Será que isso bastava ? Era de fato feliz ?
Gostava de achar que nenhum sentimento poderia lhe tirar a estabilidade. Era ela e mais ninguém. A lógica explicava tudo e tudo tinha uma razão matemática. Não gostava de pensar na possibilidade das coisas saírem de um determinado limite: da razão.
Relacionamentos ? Os familiares lhe bastavam e olhe lá...namoros, poucos. Não gostava de se envolver. Queria se manter distante a qualquer custo.
Talvez, aquela pilha de responsabildades fosse uma forma de proteção contra o que realmente queria o seu coração e que, curiosamente, mais temia: o amor verdadeiro.
De repente, um forte aperto no peito a acometeu: estava no escritório, organizando a papelada. Gelou...
Era nova, malhava, tinha uma alimentação saudável...mas, algo faltava...
Foi ao médico e este nada detectou. Fez todos os exames necessários. E nada.
E os apertos se intensificavam....resolveu antecipar suas férias para tentar detectar o que estava acontecendo consigo. Foi onde mais temia ir, mas foi: ao psiquiatra. Sim, foi constatado depressão aguda.
Falou consigo mesma: "porque isso está acontecendo comigo ? Eu achava que estava tão bem !!".
O médico lhe prescreveu remédios, alguns dias de repouso e o mais importante: fazer-se feliz.
Mas, o quê a faria feliz ? Tentou de tudo....por derradeiro, resolveu fazer o que sempre evitou: terapia. Teve que se despir dos seus preconceitos, julgamentos, tabus, enfim...
Aos poucos, foi se desarmando...A terapia, amiúde, ajudou-a a perceber o quanto enterrou aos longos dos anos seus anseios de amor, carinho, afeto.
Sim, ela nunca achou que fosse merecedora de amor. Pelo contrário. Sentia-se sempre culpada por tudo....pelo que era , pelo que não era, pelo que fazia, pelo que não fazia. E, por tudo isso, não merecia o tão sublime sentimento.
Em todos os anos de sua existência, havia a necessidade quase compulsiva de sempre estar fazendo algo muito bom para todos a fim de sempre agradar e ganhar amor...não que isso fosse ruim...até gostava e lhe alegrava muitas vezes. Contudo, havia um certo exagero... e estava esgotada.
Desde criança, assumiu compromissos de adulto para deixar todo mundo feliz. Mas, nunca conseguiu esse intento e o pior: nunca se fez de fato feliz.
As terapias, o tratamento a ajudaram a descobrir inúmeras possibilidades que a vida lhe proporcionava e a vislumbrar um futuro mais promissor.
Estava de fato se descobrindo !!
Seus sonhos foram se tornando realidade. Deixou de ser ansiosa. Passou a respeitar mais mais os seus sentimentos e a sua sensibilidade. Estava de fato mais centrada e feliz como nunca !!
Sim, ao contrário do que pensava de si, era muito sensível. Não temia mais essa sua faceta, embora soubesse que tinha muito que se fortalecer para não sofrer por ser assim.
Em sua jornada, aconteceu um fato muito importante: descobriu o amor, nos braços de um grande amigo que conhecera em uma das aulas de fotografia que começara a fazer.
Era de outro País, falava bem o Português. Casaram-se, tiveram filhos e continuaram a morar no Brasil, para sua felicidade.
Se ela continuou a contabilidade, a matemática ? Sim, na sua casa, na administração do lar, já que era super responsável com dinheiro e gostava disso.
Por sua vez, resolveu seguir o seu mais recente sonho que era fotografar.
A fotografia lhe proporcionou muitas alegrias, vitórias, prêmios e consagrações.
Por tudo isso, decidiu um dia fotografar algo que nunca poderia se prever: o mapa do seu coração.