UM GATO QUE TENTOU MUDAR SUA PÓPRIA NATUREZA

Sou um gato e meu dono diz que sou um vira lata mas, na verdade, eu sou um “ granjeste” (minha mãe era grã fina e meu pai um grande cafajeste). No cruzamento dos dois eu nasci!

Quero contar um pouco da minha história. Vivia eu na periferia de uma grande cidade com os mesmos costumes de outros gatos comendo o que encontrava no dia a dia. Mas, a minha preferência sempre foram os pássaros. Quando caçava um, chegava ao extremo do contentamento. Todos os dias ia atrás de um grande mercado onde havia muitas sobras de alimentos e muitos grãos no chão. Ali juntavam-se muitas aves e quase todos os dias eu tinha êxito em caçar uma.

Um belo dia, ao caçar um passarinho, ouvi o pobrezinho gritar tanto que acabei deixando-o fugir! Voltei para casa arrasado e pensativo. Fiz uma promessa para mim mesmo: - não mais comeria pássaros. Mas como fazer isto?

Lembrei-me, então, de uma associação que fazia um trabalho voluntário com os gatos daquela redondeza. Fui até lá. Era a CPA (Comedores de Pássaros Anônimos). Qual não foi o meu espanto ao perceber que havia muitos gatos iguais a mim. Assisti a reunião onde os membros iam à frente e contavam como se livraram de suas dependências.

Desse dia em diante passei a frequentar as reuniões com assiduidade e a compulsão foi naturalmente, desaparecendo.
Na ânsia de saber se estava realmente curado passei a tentar travar amizade com os pássaros onde explicava para eles como estava me libertando daquele vício e que as minhas intenções eram boas.

Os pássaros ouviam mas sempre longe do meu alcance. Isto me deixava um pouco triste por não acreditarem em mim. O tempo foi passando e eu me sentindo cada vez melhor. Por outro lado, os passarinhos começaram a ter confiança na minha palavra e se aproximavam cada vez mais.
Para demonstrar que eu estava curado peguei um filhote nas garras e beijei-o. Neste momento senti o cheiro e o gosto peculiar das aves e não resisti: abocanhei-o! Os outros voaram assustados. Vi, nesta hora, que eu havia recaído.

Retornei , no dia seguinte, ao local tentando explicar a situação mas ninguém acreditou e com razão! Por isso, apesar de triste por não ter conseguido cumprir o meu intento, entendi que a natureza me criou desta maneira e hoje continuo caçando junto com outros da minha raça sem me sentir culpado.

Apesar de ser um caçador de pássaros continuo sendo um excelente amigo das crianças e sou muito doce com os meus donos que por sinal me adoram.

Di Assis

01/06/2010
Di Assis
Enviado por Di Assis em 09/08/2010
Reeditado em 28/08/2010
Código do texto: T2428357
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