2045 – Uma viagem ao mundo futuro

Cheguei aos 84 anos...

Olho para trás... Como em um filme, guardo cenas vividas...

Deus, a vida passa tão depressa...

Lembro-me que quando criança eu sempre queria ser mais velha...

Pensei que jamais chegaria até aqui...

... Eu lembro... Estávamos em 2010, quando houve um grande vazamento de petróleo...

Onde foi mesmo?

No golfo... Ah, sim, foi no Golfo do México.

Por meses eles não conseguiram conter... foi uma grande tragédia...

O que a incensasses do homem não faz pela busca incessante de poder...

Vivíamos a guerra nada silenciosa dessa busca desenfreada...

Nós enxergávamos cada individuo como um ser à parte, cada país como um inimigo a ser superado...

Tolos... Éramos todos tolos...

Não víamos que a vida, manifestada em todas as suas atividades, é Deus em ação.

Mas nós Criamos nosso próprio céu nosso próprio inferno... E a vida é indiferente a quem dela faz uso...

Porque o natural da vida é a paz, é a beleza, é a harmonia...

Mas nós não víamos...

... Ou será que não queríamos ver?

Começamos a acreditar no Apocalipse.

Eram tantas guerras inúteis...

Irã, Iraque, Coréia do Norte, a China devastada por enchentes, vulcões numa tal de Islândia, tsunamis...

Comecei a achar que o mundo teria fim em 2012, segundo as profecias... A profecia Maia sabe?

Deus, eu lembro... Nós olhávamos tudo pela TV e continuávamos naquela letargia, naquela vidinha medíocre do “não é aqui, não é comigo”...

Aí, um grupo de jovens começou uma campanha pela internet para chamar atenção do que estava acontecendo com o planeta. Eles chamavam de “nossa casa”, a Terra, como se o planeta fosse um grande quintal...

Falavam da Amazônia, do desmatamento, da camada de ozônio...

... Mas, tantos antes deles já haviam falado...

Só que começou a formação de uma grande corrente... As universidades brasileiras se uniram, os jovens saíam as ruas... Eu lembro... Foi em 2010...

... Em agosto de 2010... Eu tinha 49 anos...

E mais pessoas se uniram a eles.

A “coisa” começou a tomar forma.

De repente não se falava em outra coisa.

Mudanças, mudanças, mudanças...

E uma brasilidade foi se formando... Dentro de nossas mentes, coração, alma... Uma brasilidade jamais vista.

Todos nós, ou quase todos, queriam salvar a “Mãe Terra”.

Nos unimos então numa campanha sem precedentes que extrapolou o país, numa adesão em massa... Argentina, Chile, Venezuela...

Deus, eu não quero esquecer...

Foram caindo governos...

O povo queria justiça social, educação, não violência...

Ferviam as ruas de pessoas vestidas de branco querendo mudanças, de mãos dadas, em paz, gritando num grito harmonioso:

“Mudanças, mudanças...”

Aqui, na América do Sul, na América do Norte, na Central, na Ásia...

Foi tão lindo, que se eu tivesse morrido lá, aos 49 anos, teria valido a pena.

Todos sentíamos que era a hora, que não podíamos continuar do jeito que estávamos...

E naquela manhã de agosto de 2010 eu acordei... Numa quarta-feira... Sim, numa manhã de chuva de uma quarta-feira e saí às ruas.

Juntei-me a multidão que de mãos dadas gritava.

A chuva caindo fina lavando nossas almas...

Eu estava ali e a grande mudança acontecendo...

Foi assim... Levaram-se muitos anos para completar a grande mudança.

Eu, uma dona-de-casa do interior de Taquara, que morava numa rua sem número de uma estrada geral lá de Santa Cruz da Concórdia... Fiz parte da história.

Sim, eu poderia morrer lá, feliz...

Tomamos em nossas mãos às rédeas do destino e criamos a idade de ouro da humanidade, o reino da luz e da liberdade.

Finalmente compreendi que somos todos realmente irmãos, que a paz é possível quando deixamos de pensar no “eu” para pensar no “nós” e que ela começa dentro de mim.

Eu lembro... Como poderia acontecer?

Passamos sem susto por 2012...

Chegamos aqui em 2045...

... Eu cheguei... Para ter a graça de presenciar o novo recomeço da humanidade.

Lembro de meu pai falando para que eu fechasse minha mente à ignorância e a toda e qualquer sugestão desarmônica...

Passei isso aos meus filhos e eles aos seus... E hoje, em 2045, com 84 anos, eu não vivi em vão...

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Escrito por: Eda Gladis Demoliner