DIA DE CÃO
                           
Manhã de segunda-feira, grossas e negras nuvens no céu, a tempestade não tardaria a desabar sobre a pequena cidade que desperta.
Chico abandona o carro, bate o portão da garagem e da calçada dirige-se à mulher que, acarinhando a barriga enorme, o observa na janela do segundo andar.
- Pneu furado! Não falei? Segunda é um dia desgraçado! Dia de cão!
Ela sorri e responde...
- Que implicância! Não demore, vai desabar...
 
Ele caminha apressado, burla semáforos e xinga um motorista descuidado que avançou sobre a faixa de segurança. Alguns minutos depois, sobe rapidamente a escadaria do prédio, onde funciona uma grande empresa. O vigilante cumprimenta-o alegremente.
- Bom dia!
- Se não chovesse, se não fosse segunda-feira...
E continua apressado, visivelmente contrariado, balbuciando respostas breves a todos que o cumprimentam até chegar à grande sala e, finalmente, à sua mesa de trabalho.
 
A tempestade desaba lá fora e ele serve-se de um café e vai à janela observar o tempo. Conversa com os colegas e volta ao assunto do dia, não entende por que motivo as segundas-feiras são sempre destinadas ao caos, nada dá certo, dia de cão. 
A colega Helena discorda e tenta convencê-lo, mas num gesto descuidado, respinga café na camisa dele, que credita ao dia mais essa desgraça.
Ele dedica-se à limpeza da camisa e continua a trabalhar...
O entra e sai de clientes é constante, a chuva continua a cair lá fora e os telefones tocam insistentemente a sinfonia que anuncia o início da loucura semanal. De repente, uma nota destoa...
É o celular de Chico.
- Como? Não é possível! Ah, não...
Transfigurado, aquele homem forte chora. Rapidamente levanta-se, enxuga as lágrimas e examina os bolsos, apanha na gaveta um talão de cheques e sai apressado.
Desce, salteando degraus, a escadaria que leva ao estacionamento. Ao final, para, sacode a cabeça e volta correndo dirigindo-se à saída.
 
Já não chove, o sol timidamente reaparece.
Chico tenta parar o primeiro táxi, mas estava ocupado, chorando remexe e confere o conteúdo dos bolsos mais uma vez... O segundo táxi tarda e também estava ocupado e, Chico sai correndo pelas ruas. Sem fôlego chega à recepção do hospital e, depois de rápida conversa com a recepcionista, preenche alguns formulários e dirige-se a uma sala de espera.
 
No rosto, sinais de dor e desespero. Sentado, chora com a cabeça apoiada entre as mãos. Ora seca as lágrimas e caminha nervosamente em círculo pela sala, ora volta a sentar-se e a chorar. Levanta-se de um salto a cada vez que a porta se abre e pede informação a todos que passam por ali. Chora e reza fervorosamente, ignorando os demais presentes. Vai à janela e observa o sol, agora radiante.
 
De repente alguém chega à porta e chama por ele... É um médico, acompanhado de uma enfermeira que traz nos braços Chiquinho, o primogênito apressado, que veio ao mundo duas semanas antes do previsto. 
Chico imediatamente despe a máscara da aflição e dor, saltam aos olhos a ternura, a emoção, o amor... E as segundas-feiras nunca mais foram iguais. 
 
 
* Texto produzido na Oficina Mãos à Obra Literária. 

Parabéns aos papais,  aos pais de coração, aos vovôs  - duplamente pais.  Um beijão a todos.
Tânia Alvariz
Enviado por Tânia Alvariz em 07/08/2010
Código do texto: T2424803
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