Abandonada!
- O que aconteceria com alguém, se fosse abandonado pelo seu grandioso amor? Cairia num mar de tristeza? Em uma repleta solidão? Banhada, sobretudo, de aflição? Ou não suportaria, até ver a morte, desde então?
Ela fechou seus olhos, sentindo os braços dele se entrelaçando no seu, e suspirou aliviada. Como era bom vê-lo de novo! Remexendo-se sobre aquele corpo forte, esguio, e aparentemente um tanto largo, presenciava uma forte paixão avassaladora invadir sua alma de forma inexplicável. Fora apenas uma questão de nanosegundos, para que sua mente pudesse capitular o tudo, do nada. Quando pode perceber que ele tinha realmente voltado, chorou um tanto emocionada. O sorriso harmonioso se misturando com uma imensa energia sentimental sem limites. Sem o que dizer naquele instante, só chorava. O gemido desesperador, complexo, livre de perturbações que um dia a assombrou, soando devagar em um zunindo fraco. Ele a deixou, se esquivando de seus braços levemente delicados. Encarou-a com sua expressão preocupadora estampada na face estonteante, jovial, hesitando lentamente enquanto o ar fugia de seus pulmões. Tentou falar, mas de alguma maneira ela o impediu, levando um de seus dedos sobre os lábios dele. Se mostrando muito mais diferente do que era antes, ela também fixou seu olhar, querendo tentar descobrir alguma coisa que ainda não esperava. Sem perder as estribeiras, tão logo fugiu galgando por um caminho imaginário, sem querer ouvir o que ele tinha a dizer, temendo o inesperado. Como se viesse a não aceitar a realidade infortuna presente por ali. Fingindo então viver num mundo de ilusões e fantasias, havia alguma coisa que a incomodava. A voz de Rob, contudo, havia mudado. Um som na qual ela desconhecia. O que ele quer dizer?Pensou Calmamente, ele a abraçou de novo, como se de alguma maneira estivesse se despedindo. Obviamente era isso o que estava acontecendo, começando a assombrá-la por completo. Por outro lado, Rob já não podia mais esperar. Teria uma monótona opinião sobre o que estava havendo nos últimos tempos. Não queria continuar tentando viver dentro uma situação, como se tudo estivesse indo maravilhosamente bem. Não podia mais aceitar de maneira longínqua a situação eminente e complicada. Era tudo, e esse tudo já bastava. De repente a astuta reação de Sarah o assustou. O sorriso dela começava a desaparecer, dando lugar a de uma mulher estupidamente desesperada e aflita. Tão logo, Rob imaginou Sarah a mercê das circunstâncias infelizes. As lágrimas tomaram conta de seu rosto absurdamente ostensiva. Desde então percebia o quanto a mulher a sua frente estava diferente, ao começar pela ausência de interatividade e atenção. Lamentava ao vê-la naquele estado, sem como poder interferir, nem mesmo na depressão, e a falta de presença de seus sentidos e de sua memória, que um dia era tão estruturado, como de qualquer outra pessoa. Sem perder tempo afastou-se, dando um passo para trás, sem saber como seria a reação dela dali para frente. Esperou alguns momentos, até que finalmente começou a dizer baixo, quase num sussurro. - Sinto muito. – Disse, sem saber para onde olhar. - O que você quer dizer com isso? – Questionou Sarah, tensa o suficiente para deixá-la recaída. Houve-se um silêncio fúnebre, até que Rob prosseguira ainda hesitante. - Não dá mais. Estou aqui pra dizer que não vou voltar. Sarah estremeceu os lábios, parecendo não acreditar no que estava ouvindo. Sentia-se em queda livre, num extenso poço obscuro sem fim. O gosto de bile subindo-lhe de forma instantânea. –Não! – Exclamou ela, tentando se controlar. – Não, Rob! Você... Você não pode me deixar aqui sozinha. Eu... eu... – Estou partindo. – Por fim, ele disse, enquanto as últimas palavras saiam de sua boca lentamente e baixa. O que já era perturbador para Sarah, no instante seguinte fora como se o chão sobre seus pés desaparecesse, a fazendo mergulhar para a escuridão das trevas. E mais nada. Ela arqueou a boca, deixando com que suas palavras ecoassem dificultosamente, sem destino, para fora. – Não... – Falou trêmula, impedindo a partida dele. – Não... Rob foi se afastando para trás, fixo no olhar caótico e desesperador dela, com grandiosas olheiras, resultado possivelmente de noites mal dormidas. A cada passo seu, ela permanecia imóvel, com os braços estendidos para frente, como se quisesse agarrá-lo e não querer soltá-lo mais. – Adeus. – Foi tudo o que escutou vindo dele, no imenso espaço banhado por flores de todos os tipos, árvores de todas as formas, variados bancos e uma fascinante fonte, onde em seu interior permanecia uma escultura de um anjo que jorrava águas cristalinas pelos ares em um fascinante chafariz. Ao longo do caminho, ladrilhados por extensos paralelepípedos, Sarah viu a alma de Rob se dissipar, e foi daí que não aguentou. Exausta, inacabada pela dor, sofrida pelo tempo, e pela perda de pessoa que tanto ama, desabou no chão, de joelhos. A alucinante agonia tomando conta de seu ser, instigando completamente. Continuando chorar. A gemer absurdamente aos prantos. - Nãããão! – Seu berro ecoando pelo caminho deserto. – Rob, não me deixe. Já não suportando mais, deixou tombar todo seu corpo sobre o solo de concreto, varrido de folhas de carvalho secas, que grunhiram á medida que foram levemente esmagadas. Olhando para o céu azulado, Sarah percebeu que já não tinha como mudar. Limpou as lágrimas no braço direito, fungando. - Ele se foi. – Disse num sussurro, alucinante, repetida vezes, antes mesmo de perceber que ficaria ali para sempre, naquele mausoléu onde só existia o silêncio da perda e as almas solitárias, assim como ela estava sendo.
Acordando sobressaltada, Sarah sentou-se transpirando ao todo em sua cama. Sobre a luz mortiça, a não ser por um pequeno facho de luminosidade atravessando as frestas da janela e da cortina, ela levou seu olhar aflito para a pessoa que permanecia imóvel ao seu lado. Ali, deitado, sobre um sono profundo, Rob dormia feito um anjo em meio às nuvens. Aliviada, por saber que apenas fora um sonho na qual nunca queria que viesse acontecer, Sarah levou suas mãos macias, sobre os cabelos dele. Começou a acariciá-lo lentamente, num cafuné, e deitou-se de lado, o abraçando-o completamente. Como se de alguma forma, se sentisse protegida e amada, mesmo sabendo que seu casamento estava passando por um leve transtorno, que lutava para não chegar ao fim. Rob se mexeu devagar sobre os lençóis, sentindo as caricias da mulher. Abraçou-a também, onde dali voltou a dormir. Contudo, tentando também voltar a repousar, com as pálpebras semicerradas, Sarah olhou diretamente para a pequena luz do luar que adentrava o ambiente. E em tão logo, começou a ser perguntar o que seria dela sem a grandiosa alma que a completava todos os dias. O seu grande amor. E apesar de tudo, isso era uma coisa em que não queria pensar nunca. Nem mesmo nos últimos dias de sua vida.