[inacabado/sem título] Parte 2

Não recordo-me bem quando nem como caí no sono. Muito menos como cheguei aqui. Tinha uma mulher de meia idade sentada como se estivesse me zelando. Abanava as mãos próximas ao meu rosto. Logo que viu meus olhos abertos, grasnou. "Olha só, tá acordada a menina!" Garoava um pouco e já era de dia. Lembro-me só de ter subido numa carroça... Oh não, uma carruagem. Ah sim! A bebida esquisita. Tinha me feito mal, com certeza. Foi quando senti-me lúcida e pude falar. "Cadê o príncipe? E o cocheiro? Não é surdo, é mudo, gente!" Dei-me conta de que havia muita gente em volta de mim. Uns cochichavam com outros, já a mulher gordinha que gritara anteriormente, mantia uma mão na minha testa e outra usava pra chamar mais gente pra perto. Finalmente, sem entender muito o que ocorria, levantei. Vi uma mulher puxar sua criança para longe pelo braço e reclamar alguma coisa. Alguns se afastaram e fingiram que nada havia acontecido, já outros me olharam com desdém. A mulher que me abanara puxou-me por um canto de meu vestido e fez um sinal para que eu fosse com ela. Estava perdida ali, que fazer? Segui a dona gorda até uma casa bonita. Era toda branca, tinha dois pilares na entrada, e no andar de cima, uma sacada. Talvez eu não devesse entrar, mas não tive escolha. Lá fora estava muito frio. Foi quando a velha começou com perguntas. "Foi quem que te mandou aqui?" Pensei um bocado antes de responder. Quem? Ora bolas, não o conhecia ainda. "Foi o príncipe, dona! Sabes onde posso eu encontrá-lo? É muito longe?!" A mulher contorceu-se no sofá e seu rosto estava enrugado agora. Nossa, como eram empapuçados seus olhos. Fiquei sem reação. Por que se contorcera toda? Havia eu dito algo grave? "Então és tu." Devia ser, não tinha ido tão longe a troco de nada! "Sim, eu mesma!" Sorri, e depois lembrei da contorção toda e do olhar enojado da mulher. "Quero dizer, na realidade não sei bem. Sou eu o quê, dona?" Indaguei. "Vá tomar um banho que ele chega de noite, menina." Crocitou a mulher. Não abstive. Estava exausta e o caminho para casa era longo. Um senhor casto e reverencioso, provavelmente o mordomo, conduziu-me até um quarto de hóspedes. Não era tão elegante quanto o resto da luxuosa casa, mas ainda assim, mais bonito que qualquer outro quarto que eu já pudesse ter pensado em dormir antes. No banheiro tinham duas toalhas, uma branca e outra dourada, para combinar com a decoração de pequenos elefantes nos azulejos. Despi-me só quando a banheira já estava cheia. Quando fui fechá-la, não funcionou. Já estava cheia até a boca e a torneira achou que seria uma boa idéia continuar aberta.

A água já havia ultrapassado a porta do banheiro. Foi quando ouvi umas batidas e me enrolei depressa na toalha dourada. Não podia ser. Antes que eu pudesse vestir-me novamente, a porta se abriu. Não que eu não tivesse trancado, mas a pessoa que a abriu possivelmente tinha uma cópia da chave. Pouco depois que me ocorreu, era a dona da voz esganiçada que havia me recebido. "Que fizeste!?" Esbravejou ela.

Gio Mattiello
Enviado por Gio Mattiello em 06/08/2010
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