BOCA DE URNA

BOCA DE URNA

Nas pequenas cidades do interior como São João da Cacimba, os divertimentos são poucos e o povo vive devagarzinho, entediado em seu dia a dia sem a menor graça ou agitação, nada acontece para animar a comunidade; além de trabalhar e fofocar, nada existe para alegrar e ocupar as horas vagas das pessoas, mas em época de eleições, a cidade acorda.

Porque eleição é sinônimo de falatórios, foguetes, banda de música, brigas e prisões e tudo é motivo de animação e o povo se anima e se diverte com os acontecimentos; São João da Cacimba foi durante décadas uma cidade pequena porem decente, mas de repente tudo mudou, porque o progresso não chegou, mas as drogas chegaram para infernizar.

Drogados pelas ruas fazendo uso publico de maconha, cocaína e crac, se tornou coisa habitual e comum e parece que ninguém sabe e ninguém vê, porque se fossem vistos, providencias seriam tomadas e pessoas seriam presas e nada disso acontece e o pior tormento na antes pacata cidade, são os roubos nos domicílios, até com agressões.

Coisas graves assim passam despercebidas, mas quando chega dia de eleição, as autoridades acordam e cumprem exemplarmente seu dever e coisas estranhas acontecem, como a caça aos fazedores de boca de urna, mesmo quando as urnas ficam tão distantes, que é impossível enxergar sua boca, mas o bem humorado povo se diverte com as prisões.

Como no acontecido com seu Zezé, um senhor com mais de oitenta anos, fanático por política e que sempre fez questão de participar de alguma maneira da propaganda de seu candidato e se deu o inesperado: Seu Zezé colocou uma cadeira em seu jardim e distribuía santinhos de amigo Pedrinho a quem passasse pela rua, bem longe das urnas.

Acontece que em dia de eleição, ninguém é amigo de ninguém e um adversário correu e denunciou o idoso cidadão as autoridades e minutos depois chegou uma radio patrulha e o sargento deu voz de prisão ao velho e como Vavá ia passando foi pego para testemunha do fato e apesar de seus protestos foi levado também para ser ouvido.

Dessa prisão ninguém riu e nem gostou da novidade, porque se vistas grossas são feitas para coisas mais serias e importantes, porque prender e assustar um senhor idoso e fraquinho, que estava sentado em sua propriedade sem ofender ou prejudicar alguém, mas lei é lei e o povo de São João da Cacimba só espera que daqui para frente, lei passe a ser objeto de consumo diário e para todos.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 05/08/2010
Código do texto: T2420189
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