Vidas Opostas
“Ah não! Tudo menos isso. Não pode ser verdade! O que eu fiz para merecer isso?!” pensava Elisa enquanto olhava para as unhas, cor-de-rosa com estrelas brancas nas pontas, sem reação. Ela não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Não admitia a ideia de ter uma irm... Tudo bem, irei explicar desde o começo. Elisa Wenergue era a garota mais popular e bonita da escola, líder de torcida e namorada de Tyler Smalwood. O sonho de toda garota. Pelo menos, era o sonho de Rebecca Salvatore. A garota menos popular, mais excluída e nerd de toda a escola, sem namorado nem torcida. A escola onde as duas estudavam era rigidamente dividida em ‘classes’: populares, normais e nerds. Elas eram totalmente diferentes em todos os sentidos. Exceto um pequeno detalhe: elas se tornariam irmãs. Isso mesmo, irmãs. A mãe de Elisa, Carmen Wenergue, estava prestes a casar com o grande amor de sua vida: Max Salvatore, o pai de Rebecca. Elisa sabia que a mãe estava namorando há 1 ano e meio, mas como sua vida era muito agitada, assim como a da mãe, ela não se interessava pelos vários namorados da mãe e ainda não havia conhecido a família de Max.
Um sonho para Rebecca e um pesadelo para Elisa. “O que será de mim agora?! Todos vão pensar que eu sou que nem ela!”. Era realmente um pesadelo para Elisa, porque além de ter de ser irmã de Rebecca Salvatore, elas teriam que dividir um quarto. “O grande, lindo, perfeito e cor-de-rosa quarto de Elisa Wenergue”. Rebecca estava realizada. Só se preocupava com uma coisa: o casamento seria daqui a 1 semana e ela não sabia que roupa iria usar. Nem Elisa. Carmen então teve a ideia de levar Elisa e Rebecca ao shopping para ambas escolherem seus vestidos. Era uma quarta-feira à tarde, e lá estava Carmen, Elisa e Rebecca na loja de vestidos mais lindos de Maine (a bela cidade em que eles moravam), a Shine. Elisa havia escolhido um vestido cor-de-rosa, com uma alça apenas e com muito brilho. Já Rebecca, que estava em dúvida entre dois vestidos, não sabia se deveria abrir a porta do provador. “Estou muito diferente. E não sei qual escolher. Não sei o que elas irão achar e...” Rebecca estava de frente para o espelho, pensativa quando Elisa, impaciente, abre a porta do provador. E fica pasma. “Essa não é Rebecca Salvatore. Ela está...”
“Linda!!!” Carmen estava radiante vendo a futura filha com o belíssimo vestido. Era um vestido azul, longo, tomara-que-caia com uma enorme saia. A saia era de tule azul (muitas e muitas camadas de tule, na verdade) com pequenas pedrinhas brilhantes e a parte de cima, justa no corpo, deixava Rebecca realmente deslumbrante. E feliz. Desde a notícia do casamento, a vida de Rebecca havia mudado. Na escola as pessoas olhavam para ela de maneira diferente e Tyler havia sorrido para ela. Isso mesmo, Tyler Smalwood, o capitão do time de futebol da escola e ex-namorado de Elisa. Eles terminaram, no dia em que a notícia de que Elisa e Rebecca se tornariam irmãs. Já a vida de Elisa também havia mudado e ela não estava gostando disso. “Ninguém fica mais bonita que Elisa Wenergue! Ninguém.” Os vestidos foram comprados e estavam guardados na casa de Elisa. O que não foi uma boa ideia. Elisa estava com uma tesoura na mão e o vestido maravilhoso de Rebecca em outro. “Posso dizer que ratos roeram as costuras...” Ela então começou lentamente a cortar as costuras que seguravam as várias camadas de tule. “Os vestidos de hoje em dia são de muita má qualidade. Coitadinha. Escolher logo esse vestido?! Tão mal feito!” Elisa queria muito ver a grande saia rodada de tule se separar do restante do vestido de Rebecca, no meio do casamento. E foi o que aconteceu.
Um sonho para Elisa e um pesadelo para Rebecca. O casamento já havia acontecido e todos estavam dançando animados quando Elisa sem querer esbarrou em Rebecca, derramando todo seu refrigerante no vestido da irmã. Elisa se desequilibrou e teve que segurar na saia do vestido de Rebecca para não cair. Rebecca apenas queria esquecer-se daquele horrível momento enquanto chorava em sua cama, deitada em meio a seus inúmeros ursinhos de pelúcia. “Elas vão se acertar. Eu sei que vão” dizia Carmem a Max enquanto jantavam. Com o passar dos dias as coisas voltaram a ser como eram antes do casamento do pai de Rebecca com a mãe de Elisa. Elisa nunca estava em casa, sempre saía com outras líderes de torcida, por isso elas quase nunca se viam, apenas na hora de dormir. Ainda dividiam o quarto. Rebecca estudava em seu tempo livre: as provas finais estavam chegando. Já Elisa não. Na escola, a mesma coisa de sempre. Ensaios e treinos para Elisa e estudo e humilhações para Rebecca.
Em uma noite de sexta-feira, algo fora do comum aconteceu. Rebecca estava no quarto estudando quando Elisa entrou. “Isso é estranho. Ela nunca está em casa de noite, ainda mais em uma sexta-feira.” Rebecca olhava desconfiada para Elisa, que se empoleirava em uma banqueta ao lado da irmã. “Eu sei que a gente não se fala muito” começou Elisa “Mas eu queria mudar isso. Irmãs devem se falar, ser amigas e se ajudar quando uma precisa de ajuda.” Rebecca sabia que aquele comportamento não era normal. “O que você quer? Fale logo porque eu preciso estudar.” Elisa então respondeu: “Eu preciso de ajuda. As provas finais estão chegando e eu não posso ir mal, se não, terei de deixar de líder de torcida. Você sabe que apenas uma nota abaixo da mé...” “O quê?! Eu não acredito que, depois de tudo o que você fez, tem a coragem de me pedir ajuda!” “Olha Rebecca, isso é uma questão de classes. Você e eu não pertencemos à mesma classe. Eu sou popular e bonita, já você não. E querendo ou não, é a verdade e você vai ter que entender isso.” Elisa já estava cansada de dizer isso às pessoas e Rebecca, acostumada de ouvir. Porém dessa vez, sua resposta foi um pouco diferente. “Pode ser que você seja bonita e popular, mas isso não é algo pra o qual as pessoas deveriam dar atenção. Claro que os garotos preferem alguém como você ao invés de mim, mas essas coisas de ‘classes’ não deveria existir. As pessoas deveriam ir à escola pra estudar e não para mostrarem roupas e beleza. Isso é ridículo. A aparência e o ‘status’ estão tão importantes hoje em dia que as pessoas esquecem de serem elas mesmas. Por isso, se você quer que eu e ajude, terá de fazer algo em troca.” Elisa não acreditou na resposta da irmã e ficou de pé. Com as mãos na cintura disse: “Tudo bem, dependendo do que você pedir, eu faço.” “Elisa, não é ‘dependendo do que você pedir’. É sim ou não. Ou faz o que eu pedir, ou sem ajuda. Você decide.” “Nossa, que diferença. Quem diria que Rebecca Salvatore possui seu lad...” “E você tem até amanhã para decidir. E independentemente do que eu escolher lembre-se, você terá de fazer.” Rebecca saiu do quarto e Elisa, que nunca havia sentido isso antes, se sentia humilhada. Rebecca se sentia leve, pois tirou um peso de si. Ela há muito tempo queria ter dito isso, mas nunca teve coragem.
O dia amanheceu e Rebecca estava tomando café quando Elisa veio falar com ela. “Já decidi. Não foi difícil porque foi necessário. Eu preciso ir bem em química, então a resposta é sim.”
“Muito bem. Ótima escolha. Em que você quer ajuda?” “Química. Não sei nada e preciso de um milagre.” “Tudo bem, mas antes, o meu pedido.” “Ah sim, sabia que você não iria esquecer. Pode falar.” “Como não concordo com a drástica divisão que há em nossa escola e sei que você tem poder para fazer isso, eu quero que isso acabe. Não quero que exista mais ‘grupinhos’ porque isso é a maior bobagem. Por isso teremos um almoço diferente hoje.” “Mas o que exatamente você quer que eu faça?” Elisa não estava entendendo, mas Rebecca não explicou. “Você verá. 11h15min no refeitório. Encontro você lá.”
Elas foram para a escola e tudo estava normal. Até a hora do almoço. Quando os alunos começaram a entrar no refeitório, às 11h30min notaram as mesas enumeradas e nomeadas. Cada mesa do refeitório possuía o nome de 15 alunos de diferentes ‘classes’. Ninguém estava entendendo nada e então Elisa começou a falar: “Sei que vocês estão notando certa ‘diferença’ no refeitório hoje. É pra melhor. Acreditem. Cada mesa possui nomes, que serão trocados a cada duas semanas. Durante as próximas, vocês conviverão com pessoas diferentes e o objetivo é formar amizades e perceber que o falam por aí, muitas vezes, não é verdade. O braço esquerdo que Rebecca, por exemplo, não é de mentira como eu dizia” Elisa não acreditava no que estava dizendo e sussurrou no ouvido de Rebecca: “Satisfeita?!” Rebecca apenas sorriu e disse: “Continue. Eles estão prestando atenção e acho que gostando.” Elisa incrédula, continuou. “Então quero pedir desculpas em nome de todos os ‘populares’ pelas humilhações que provocamos aos nossos colegas. Isso não vai se repetir. E tenho certeza de que vocês irão gostar de conhecer novas pessoas!” Os alunos trocavam olhares com espanto, pois essa não era a Elisa Wenergue que eles conheciam. Não era mesmo, mas então, depois de alguns minutos, os risos e conversas eram bem audíveis no refeitório da escola. Novas amizades estavam sendo formadas e Rebecca estava satisfeita. Era com isso que ela sonhava todos os anos, mas nunca havia tido a chance de realizar. Chegando em casa no final da tarde, Rebecca com um sorriso radiante no rosto e Elisa com cara de ‘não acredito que fiz isso!’, as duas subiram ao quarto. “Agora, preciso aprender química.” “Tudo bem.”
Depois das provas finais, tudo corria bem na bela cidade de Maine. “Eu disse que elas iriam se acertar. Eu disse. Mãe sabe das coisas. Era instinto materno” dizia Carmen a Max enquanto almoçavam. Principalmente na escola de Elisa e Rebecca. Elisa acabou não tirando nenhuma nota abaixo da média. “Por pouco!” pensou ela quando viu sua nota da prova de química: 6,3. A média era 6. A divisão de classes havia sido extinta e praticamente todos os alunos se davam bem. Exceto algumas e outras humilhações inevitáveis, como a vez que Elisa derramou seu suco na blusa de Rebecca. E também a vez em que Elisa estava passando pela irmã e, acidentalmente é claro, Rebecca tropeçou no pé de Elisa e caiu no chão derrubando todos os seus livros. Mas isso era inevitável. Certo dia, chegando em casa, Elisa e Rebecca se depararam com uma notícia chocante: “Vocês terão uma irmã!” disse Carmem. Um sonho para Carmen e Max e um pesadelo para Elisa e Rebecca. “Ah não! Tudo menos isso. Não pode ser verdade! O que eu fiz para merecer isso?! Mais uma no quarto?!” pensou Elisa.