Microfonia

Segurou com as mãos as coxas frias e luzentes e rumou para o quarto. Tateou na parede o interruptor e proveu de meia luz o ambiente. Atento ao controle remoto disparou o botão vermelho em direção ao noticiário, passou para um filme romântico em preto e branco e, naquele instante, recordou-se de sua Amália e suas coxas tenras, agradáveis ao tato e ao gosto.

Com o toque do telefone lembrou-se de ajustar o aparelho auditivo para não cair naquele zumbido da microfonia. E agora? Correria o risco de abrir mão daquelas coxas formosas para saber quem estava ligando? Que importava atender ao telefone na noite de domingo quando a maioria das ligações era para pedir donativos?

Melhor se ater a taça de tinto envelhecido, que era das poucas coisas naquela idade que ainda valia a pena. O resto era frio e engordativo. Pena que sua Amália não mais vivesse para preparar aquelas deliciosas coxinhas de galinha como ninguém sabia.
meriam lazaro
Enviado por meriam lazaro em 01/08/2010
Reeditado em 11/08/2010
Código do texto: T2412637
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