O Adeus do Pequenino
Lá estava o caixãozinho sobre a pequena e velha mesa de madeira, bem no meio da sala, e as pessoas se comprimindo para ver o pequenino que jazia ali sem vida.
A expressão de seu rostinho era a de um anjinho adormecido.
Sob a mesa, chorando inconsolável, estava a irmãzinha maior. Por mais que tentassem tirá-la dali não arredava pé, e a cada tentativa dos adultos chorava mais e mais.
Por fim, a mãe, com a sabedoria e compreensão que lhe era peculiar, pediu que a deixassem ali. No momento certo ela sairia de lá. E foi o que aconteceu.
Quando pegaram o caixãozinho para levá-lo ao cemitério, ela saiu dali. Acompanhou o féretro chorando durante todo tempo. Viu quando o enterraram e não queria acreditar que estava perdendo, para sempre, seu irmãozinho querido.
Voltou para casa amparada pela mãe que tentava consolá-la enquanto ela mesma engolia o choro.
Agora ela era a sua caçulinha novamente e não podia deixá-la sofrer assim. Afinal de contas já sabia, desde que seu filhinho nascera, que ele não viveria muito, pois nascera com um grave problema. Esperava que não chegasse aos três anos de vida e era isso o que acabara de acontecer. A mãe já estava preparada, mas como explicar tudo à sua filhinha tão pequenina ainda?
Chegando em casa começou a colocar ordem nas coisas que estavam espalhadas por ali. Enquanto isso, a filhinha sentada na soleira da porta da sala, olhava para a rua de cima, o mesmo lugar por onde havia passado a multidão que fora acompanhando o pequenino morto.
De repente, ouviu um grito e viu sua filhinha de olhos arregalados.
- Mamãe, ele voltou! Ele voltou! Olha lá! Está lá naquela casa! Entrou no quintal. Eu vi! Eu vi! Ele riu pra mim e abanou mão! Ele está lá, mamãe, está lá! Eu vi!
Agarrou a mãe pela mão e começou a puxá-la desesperadamente em direção àquela casa.
A mãe, apavorada, tentava contê-la, mas ela gritava e puxava-a cada vez mais naquela direção.
- Eu vi, mamãe, eu vi! Ele abanou a mão pra mim e entrou lá. Está lá no quintal! Eu vi! Eu vi! Eu vi!
Foi arrastando a mãe e, ao chegarem ali, procuraram-no por todos os cantos, mas não o encontraram.
Abraçando-a com carinho e apertando-a fortemente contra o peito, a mãe disse:
- Filha, ele apareceu pra você, riu e abanou a mãozinha só pra que soubesse que está feliz e que já estava a caminho do céu. Agora ele é um anjinho.
Abraçada à mãe, chorou muito. Sabia que ela estava falando a verdade. Agora não era mais seu irmãozinho, mas um anjinho e aquele fora seu Adeus.
Do Livro: “Denúncias Poéticas, Contos e Crônicas” – Pág. 54