LUA DOS LUNÁTICO - Lia de Sá Leitão, 25/ 07/2010

Tem dias que a vida parece sorrir, outros nem parecem existir, e mais aqueles que nem sabemos o por quê de a chuva cair ou o sol brilhar, são indiferentes.

Mas nada disso é levado em conta quando passamos meses sem perceber que a Lua existe, que as estrelas estão piscando e vez por outra saltitam num brilho frenético, dizem os astrônomos que aquele intenso lumiar é uma explosão, ou devido a juventude estrelar ou devido a sua velhice, que bobagem! Desde quando nós que olhamos o céu para encontrar uma das mais belas estrelinhas brilhantes vamos imaginar que as brancas são as jovens as vermelhinhas as velhas, nas nossas imaginações aquelas coisinhas piscantes que nunca podemos pegar, guardar dentro de uma caixinha de música vienense e dar de presente, possui mais mistérios do que a ciência possa esclarecer.

Como tantos, sou obrigada a ler, estudar, entender algumas exposições acadêmicas das escritas e pensamentos humanos, fazer o quê? Seria tudo tão fácil se o homem não quisesse encontrar extraterrestre nos Planetas mas sim que procurassem a fábrica do mais puro queijo galáctico. Como eu adoraria chegar na NASA e um cientista revelasse: experimente como foi a primeira sensação de Gagari, o astronalta russo quando viu que a Terra era azul, seria um poema, o mais infantil dos poemas porém o mais belo de todos. Como não sou muito de pensamentos profundos, e não consigo deduzir a idéia subjetiva de um poeta, eu escreveria curto e grosso e diria eis meu poema, Deus existe! Pois é, que bacana! Uma simulação de vôo nesse aparelho me levaria a ver o infinito, entender o céu dos etéreos pensamentos e o céu romântico que ensinam as crianças que perguntam sobre a morte, para onde vamos depois que morremos? Seria divinal responder apontando anos luz e afirmar com seriedade, veja, depois de dez mil anos luz, você voa mais meio metro e é lá, tem campos com florzinhas multicores , cascatas e aves voando, nossos entes queridos de braços abertos nos esperando e uma variedade de passarinhos cantando sem contar que tem um portão enorme e as alminhas das crianças formam um coral de recepção.

Passariamos para outro nível dentro de um enorme elevador branco com a bandeirinha americana plantada lá em cima, disfarçando um olho mágico, ali os psicólogos da NASA observavam o comportamento humano, dos bem e dos maus comportados, eu estaria entre os maus comportados, afinal não teria graça alguma engolir goela abaixo tudo que os cientistas me dissessem, eu teria que entender nem que para isso fosse necessário interromper várias vezes os discursos. Mas aquele olhinho mágico numa daquelas estrelinhas da bandeira americana iria me incomodar profundamente, seria capaz de mascar o chiclete ADMS, aqueles de caixinha do tempo da vovó, velho pra caramba! Bem que podia substituir pelo Babaloo recheado que todo mundo conhece. Xi! La estou eu nos devaneios dos doces! PIB PIB voltando ao passeio interplanetário da NASA.

O elevador para e se inicia mais um evento, se descortina diante dos meus olhos mais uma curiosidade que me tira a atenção do olho mágico na estrelinha da bandeira.

O mesmo cientista que não era astronalta, de olhos azuis e cabelos cor de machimelo cinza me falaria com convicção puritana.

Aqui você terá as mais singelas emoções da alma, sentirá a mesma emoção infantil de toda a sua geração de crianças privilegiadas que puderam assistir pela televisão brasileira, uma caixa de madeira, da General Eletric, ou Filips, aquele objeto plantado na sala e todos ao redor que mostrava entre os chuviscos e uma imagem extraordinariamente ruim a Apolo 11 fazendo um city tour ao redor da Lua até encontrar um plano e descer em solo lunar. Lembrei que as conversas na sala da casa de meu pai eram díspares, os otimistas achavam que na Lua os experimentos das vacinas para curar a humanidade seriam imprescindíveis, outros rodavam seus cubinhos de gelo no uísque imaginando uma guerra nas estrelas e nas supremacias dos Governos, esses coitados nem podiam externar um sentimento, podiam ser taxados por comunistas e na época passávamos pela ditadura do Brasil ameo-o ou deixe-o. Eu que não entendia de nada, achava aquilo tudo uma grande balela! Infernizava o povo, tirava uma azeitona daqui, comia um salaminho dali, entrava em casa molhando tudo porque não largaria meus mergulhos de piscina para estar de olho grudado na televisão. Mas a emoção dos mais velhos era enorme! Na horinha em que a nave parou como seria prático escrever, ALUNOU? ( EU EXPLICO ALUNAR É DESCER NA LUA, ANÁLISE DE CRIANÇA SE ATERRISAR É DESCER A TERRA), ali na NASA, ouvia meu pai crianças venham ver o primeiro astronalta a pisar na Lua! Ouvi aquilo, sem muito entusiasmo, achava que era uma invasão na Lua das bruxas, na Lua dos contos de fadas, na Lua que imaginava ser a emoção dos lobos e dos lobisomens. Mas fui, sentei bem debaixo da caixa mágica, olhava pra cima e via duas manchas brancas, a nave e o homem descendo as escadinhas, poxa! Os adultos berravam como crianças em festa de Cosme e Damião ( nessa festa só tem doce grátis ) ali tinha uisque e petiscos, logo as garrafinhas de cocacola foram passando para a criançada, e eu ali com carinha de anjo barroco a questionar meus poucos conceitos sobre a Lua. Meu coleguinha olhou o pai e berrou, pai quando eu crescer serei um Comandante da Marinha e vou fazer experiências na Lua, o outro disse, mãe eu vou ser astronalta e vou na Lua, a outra falou eu vou ser dessas telefonistas da NASA que falam o tempo todo com os astronaltas, e alguém muito sem graça me perguntou e você menina o que vai ser? Respondi num tom sério, professora, para mostrar a vocês que a Lua é dos poetas. O silêncio foi total, mamãe me pegou pela mão, e rindo me levou na cozinha, porque serás professora filha se nem gostas de estudar? E eu segredei baixinho, esse povo é todo tapado! O astronalta abriu a portinha branca, desceu de costas, e quem bateu as fotos? Não tinha máquinas kodack espalhadas pelo pé da nave, quem bateu as fotos? O astronalta foi filmado pelas costas por um ET? Claro que naquele simulador pude concluir que nunca, jamais o homem esteve na Lua, só os poetas, os apaixonados, os amantes, jamais a Lua pode ser maculada pela ambição humana, ela tem sempre que iluminar o chafariz da pracinha do redondo. ( Redondo é giradouro em Cascavel – Paraná - esse se localiza na estrada do Lago.)

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 25/07/2010
Reeditado em 25/07/2010
Código do texto: T2398639
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