BRISA LEVE
(Ao amigo Cláudio)
(Fazem três anos que não subo a serra meu irmão, mas apesar da distância sabes o quanto o amo, seu presente está aqui e prometo que irei levar e abraçar-te meu irmão, você sabe o quanto é importante e sabe que praia é essa, Deus te abençoe)

                                                             

              Numa manhã Y caminhava pela praia pensando na vida, olhando o mar, que estava calmo, sentindo a brisa tocar de leve seu rosto. Era uma praia quase deserta, tranqüila no interior e ao longe a paisagem era pintada por barcos que enfeitavam o mar e seus olhos.

             Depois de caminhar por algum tempo Y encontrou W, seu melhor e inseparável amigo, se conheciam tanto que podiam sentir quando um estava triste ou alegre. Todos os dias se encontravam na praia, caminhavam juntos e sentavam num quiosque e ficavam horas conversando, não viam o tempo passar, não importava se tinham assunto, se não tivessem, inventavam, em outros dias, mas eram poucos, não se viam ou conversavam pouco, mas estavam sempre por ali, na praia que tanto amavam e onde se sentiam bem.

             Nessa manhã enquanto conversavam no quiosque à beira mar Y sentiu que W estava triste e perguntou ao amigo:

- Por que está triste?

W responde:

-Já se passam dias ou mais de mês que você não visita minha casa

Y ficou olhando o vazio sem saber o que falar, o interessante é que W quase todos os dias visitava a casa de Y, mesmo que fosse por minutos, para tomar um café ou desejar um bom dia ou boa noite. Depois de um breve momento Y disse:

- Talvez seja porque nos encontramos todos os dias na praia

W baixou os olhos e ficou quieto por um momento, Y sentiu que W se entristecera, mas não disse nada, ficou em silêncio que era quebrado pelo barulho das ondas e o som das gaivotas. Na verdade Y não percebera naquela hora que, às vezes fazemos falta a quem nos ama. Levantaram-se,  despediram-se  e seguiram seus caminhos para as ocupações do dia.

           À noite quando estava só Y ficou refletindo sobre o que seu amigo W disse e viu que é muito importante visitar um amigo em sua casa, pois ali é nosso coração, nosso interior, nossa casa é nosso mundo, é onde queremos compartilhar nossa vida com quem amamos, é ali que W se sente feliz em poder ver no retrato que fica na memória que viveu um pouco de si com amigos que ama. Então Y viu que não basta visitar a casa de um amigo uma só vez, porque cada momento é um pedaço da vida, que é feita de infinitos momentos e assim ele percebeu que é importante para W sentir sua presença nesses momentos.

          No outro dia pela manhã, na beira da praia se encontraram como sempre, caminharam juntos pela areia sentindo todo encanto da paisagem, sentaram-se no mesmo quiosque e começaram a conversar e num momento Y disse:

- Hoje à noite irei jantar em sua casa, vamos ouvir música e conversar.

Y sentiu a felicidade nos olhos de W e falou:

- Sei que por estarmos sempre juntos às vezes esqueço de lhe visitar, mas não esqueço de você, sei que somos amigos e que sou importante pra você e por isso farei o impossível para sempre visitar sua casa.

W abriu um sorriso contagiante e Y sentiu no coração aquele momento de felicidade e por estar ali com aquele amigo que tanto ama. A noite chegou  e Y ficou em casa lendo e ouvindo música, depois foi até a janela e ficou a olhar a noite estrelada, esquecendo a promessa que fez e nem mesmo lembrou do amigo que ficou esperando.

         Os dias e os meses se passaram e nada mudou entre eles, mas numa noite Y lembrou-se daquela manhã que fez a promessa de jantar com W, lembrou que se esqueceu e que a manhã seguinte estava chuvosa, mar revolto e céu cinza e triste, mas nada mudou, nem mesmo a amizade, apenas um detalhe lhe chamou a atenção: Nunca mais seu amigo inseparável o convidou para visitar sua casa, que ainda estava lá, perto da praia, numa rua tranqüila e arborizada e que estava sempre com as portas abertas.