OS SONHOS DE JOSÉ
José pulou cedo da cama. Eram 5 horas da matina. Tudo escuro. Um convite para um cochilo, para um espreguiçar gostoso. Mas já era preciso levantar, preparar-se para sair de casa rumo ao trabalho. A terça-feira prometia. Tinha planejado se ocupar bastante para não pensar em bobagens. Aquilo vinha lhe chateando o tempo inteiro. Vinha lhe martelando a cabeça. Parecia um filme de terror.
Na parada de ônibus, o frio da manhã fazia com que ele se curvasse e tremesse o tempo inteiro. Passou a condução, ele entrou e sentou-se do lado da janela para admirar a paisagem e o clarão do sol que já despontava bonito, radiante, imponente. Pensou na vida e no trabalho. Pensou no dinheiro suado que lhe rendia a construção civil, o seu ofício de pedreiro. Por outro lado, pensou nos sonhos que tinha. Sonhos de ribalta, de encenações e de reconhecimento. Precisava escolher entre um e outro. Naquela terça-feira, precisava escolher entre o cimento e a liberdade. Entre os tijolos e o céu estrelado. Entre a pá e a folha de papel com as falas de um personagem de uma peça de teatro. Precisava escolher. O momento era agora. A decisão tinha de ser tomada.
O ônibus corria, não parava, pois ninguém lá fora dava sinal para entrar no veículo. Dentro dele, só José e o motorista. José e os seus pensamentos. Só ele e o motorista. O condutor do transporte coletivo e José. Dois homens e um mesmo destino. Destino intruso. Uma freada e a impossibilidade de escolha. José não seria mais pedreiro nem poderia mais experimentar o gosto de se tornar um ator. Acabou-se o tempo para escolhas. Nem uma coisa nem outra. Era o fim de um ato. A cortina se fechou. E o outro ato não aconteceu.
Glaucia Ribeiro (16/7/2010)