O canário encantador e o fazendeiro
Havia um fazendeiro. Homem abastado. Possuía terras e animais. Dentre tantos animais, havia um pássaro. Não era um pássaro qualquer; Era um canário belga. Belo e cantador. Canto exuberante... E este era mais que de estima, era quase um membro da família.
Tamanha era a admiração do fazendeiro pelo pássaro, que ele já não o deixava com os demais, sob os cuidados de seus funcionários, mas sim sob sua própria tutela.
Botava comida, limpava gaiola, punha-o ao banho de sol, e tudo mais que se possa julgar exagero a um simples pássaro... Não. Não era um simples pássaro. Era o canário encantador. O mais especial dentre centenas de animais do fazendeiro.
Mas foi em um belo dia ensolarado, porém sem inspiração, que o canário percebeu os primeiros sintomas de como se dava a sua verdadeira relação com o dono. Começou a sentir que o amor do fazendeiro por com ele não era lá tão despretensioso assim... Sentiu ele que não havia uma cumplicidade caso não cantasse exatamente com o mesmo vigor e com a mesma beleza todas as vezes...
O dissabor da ave fora crescendo em proporção desordenada ao perceber cada vez mais a falta de interesse por parte de seu estimado e amável dono, todas as vezes em que não se sentia inspirando o bastante para entoar seu lindo canto e, assim, não o fazia. Era uma é uma questão de raciocínio lógico: Quanto mais o pássaro não cantasse, muito menos lhe era dado qualquer regalia. Muito pelo contrário. Cada vez mais era posto de lado, a ponto de migrar da ventilada e luxuosa varanda para junto dos demais.
Era o fim.
Tudo acabou de forma muito simples e trágica: Ao abastecer da comida e da água costumeiras, um funcionário da fazenda, deixou a janela aberta. Então, sem sequer titubear, o tão belo cantador e encantador canário, alçou o voo da liberdade... E desde então jamais voltou...