Contos de uma Gueixa- Eike "Acordei com pés tatuados sobre o peito."
"Acordei com pés tatuados sobre o peito."
O edifício calcinado e desfeito não parecia nada com o lugar onde estive na noite passada. Tudo é tão estranho que chego a duvidar se realmente aconteceu.
Um senhor magro, calvo e com roupas gastas, os botões da camisa abotoados até o pescoço e nos punhos, mãos finas e dedos longos, pele branca e olhar cinzento está sentado num banco em frente ao que sobrou do edifício do outro lado da rua. Não tenho certeza, mas acho que já o vi antes, não consigo lembrar de onde o conheço.
Aqueles olhos não são olhos de esquecer.
Atravesso a rua e como se ele esperasse por mim diz em voz baixa:
-Fizeram um estrago ali.
A voz.
Estudada.
Cada palavra escolhida antecipadamente?
Será?
Fiquei olhando o edifício tentando demonstrar desinteresse, mas logo o enchi de perguntas, o homem era a o único ser vivo naquele lugar.
-Mas o que houve? Onde estão as pessoas que viviam ali? Alguém morreu na explosão?
-O edifício está abandonado há muito, desde que o homem que vivia ali morreu de forma misteriosa. Ninguém fala sobre o assunto e a casa se tornou um edifício misterioso e abandonado, ninguém ousa entrar ali.
-Viveu ali uma cartomante nos últimos tempos?
Ele olhou-me nos olhos sem demonstrar surpresa ou curiosidade:
-Não, a única mulher que visitava o homem era sua mãe uma senhora de 60 anos e um homem. Sempre com uma mala preta ficava pouco tempo e saía apressado.
O homem vinha sempre as sextas à noite, quando ele não vinha aparecia outro no lugar dele. Sempre no mesmo horário.
-Não sei o que faziam ali, mas era algo estranho pode apostar.
Meu avô sai de casa todas as sextas à noite. Diz que vai encontrar um amigo de longa data.
- Devo estar ficando maluco, meu avô é um homem que só pensa nas suas pesquisas científicas e mais nada.
Eu quase me esqueci do homem ao meu lado. Ele parece ler meus pensamentos:
-Vá embora. Não volte mais aqui. Este lugar é amaldiçoado.
Deixo o homem no banco e volto para o edifício. Da escada brilhante não restou quase nada, mas na parede do lado direito uma caixa de correio com a porta retorcida deixa aparecer um papel branco.
Um envelope.
No envelope está um endereço, um horário e a letra "G".
Guardo o envelope e saio para a rua, o homem que estava no banco já não está mais lá. Toca meu celular. Meu amigo Léo.
Pego um táxi e vou até o hospital.
Ainda perturbado com tudo acontecendo ao meu redor corro para a sala de emergência. Léo está a minha espera. Anda de um lado para outro e suspira aliviado quando me vê.
Léo conta que meu avô foi encontrado por um vizinho, estava desmaiado e agora respira com ajuda de aparelhos. Minutos mais tarde o médico veio de cabeça baixa falar comigo. Não precisava falar nada. Eu sabia.
Fiquei só no mundo, perdi meus pais quando era ainda muito jovem e desde então vivia com meu avô.
Agora a casa esta vazia e o silêncio estarrecedor.
Vou para o quarto do meu avô em busca de algo que me faça acreditar que ele vai voltar. Vai chegar a qualquer momento, mas só ouço o som do silêncio.
O quarto vazio. No chão quase embaixo da cama está uma mala preta.
Abro-a e o que encontro ali não é pesquisa científica sobre uma nova vacina como ele dizia, mas rabiscos e mapas, endereços e livros, anotações sobre uma cidade no sul da Alemanha.
Levo a mala para o meu quarto, agora não tenho cabeça para decifrar isso tudo, parece não fazer o menor sentido.
Abro o envelope com o endereço e a letra "G". No bilhete está escrito:
-"Preciso ver você hoje, siga as instruções e venha me ver. É importante"
Depois de um banho demorado, tomo um drink e deito na cama, logo os pensamentos que antes eram confusos sumiram todos, só um pensamento domina minha mente:
Ela!
O perfume , o corpo, o olhar languido e misterioso.
Acordei e saí logo da cama, tive sonhos loucos:
“Estou no centro de uma sala, homens me olham sem nenhuma expressão facial, ela vem até onde estou e me beija.
Estou amarrado com as mãos nas costas da cadeira.
Ela está completamente nua e me diz:
-Você tem duas opções: Fazer amor comigo agora ou morrer. “
continua.........................
Continua............