A Morte do Satanás.

O Satanás se foi numa quinta feira fria de outono no Brasil. O clima estava tão gélido que quase desisti de jogar futebol naquele dia.

Foi-se meu jovem amigo, fiel companheiro de eiras e beiras, de carícias e afagos, com sua cabeça desproporcional ao restante do corpo, que ao final ainda mais se acentuou devido a doença que o ceifou.

Ninguém soube ao certo qual fora a causa real de sua morte. Alguns dizem que fora violentado na rua por algum católico fervoroso, cidadão respeitável e zeloso pai de família. Outros alegam que fora envenenado despropositadamente pelos “chapas” do barracão vizinho. Já a terceira corrente afirma que, cansado da vida, o nosso querido Satanás se suicidou quando sentiu que contraíra grave doença. Na verdade ninguém soube ao certo o motivo de sue passamento.

Negro que só ele, vivia a rondar nossa residência, lançando nas noites sombrias seus modos assustadores de expressão vocal, que lembrava muito crianças recém-nascidas, algo horripilante, principalmente para quem dorme sozinho.

No princípio, quando jovem, era caseiro, dormindo e se alimentado a maior parte do dia. Com o passar dos tempos, foi adquirindo hábitos noturnos, aparecendo de vez enquanto apenas para encher a pança e tirar uma soneca, logo zarpando para seus empreendimentos misteriosos, em telhados, forros e matagais das redondezas. Era um bicho louco, aquele Satanás.

Jazeu inerte na cozinha de casa, quando pela última vez o empurrei com a vassoura, batendo-lhe com a enorme cabeça no portal, quando a fechei, pois fedia feito um porco velho. Adorava alimentos putrefatos e atacar crianças desavisadas, lançando suas garras infectas, contaminando quem desse bobeira.

Vivemos poucas e boas em seu curto período existencial. Eu e o Satanás. Quão parceiros fomos no desenrolar desses anos!

Um belo gato, aquele!

Fique com Deus, Satanás!

Cristiano Covas, 30.5.06.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 08/07/2010
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