UM SOFRIMENTO
UM SOFRIMENTO
A cada dia que passa meu rádio continua triste, acabrunhado, chiando, querendo se alterar ao tentar encontrar um ponto ideal para imantar o seu dial. Tento sintonizar uma emissora de rádio, e ele teima em pinotear fazendo pirraça a toda hora, e a todo instante. Pensei cá com meus botões: será que meu lazer de todos os dias está doente ou está querendo virar gente? Há uma existência em cada coisa morta e uma centelha que provém do nada? Não sei, mas assim já se pronunciava o poeta Gomes Moreira. Tentei um diálogo com meu rádio de estimação. Fiz-lhe diversas perguntas e ele teimou em ficar calado. De repente ouvi um som bem baixinho, diferente do palpitar em luz que a natureza exorta naqueles que se buscam na escalada.
De mansinho ele foi tomando força tentando soltar sua voz forte, alegre, jovial, carinhosa, educadora e cheia de ética. Fui mudando o meu aspecto de preocupação me alegrando aos poucos como uma batida de uma válvula propulsora cansada e doente. Como um menino alheio aos aspectos do cotidiano conversava baixinho comigo mesmo, mas a preocupação com meu rádio não saia do pensamento. É de esperança que se veste a alma, em roupagens de fé e de otimismo. Com esse otimismo insisti dialogar com o meu radinho de cabeceira. Não era besteira e nem asneira o que se passava comigo, mas quando estou só com o pensamento, ou cismo nessa hora extrema, de incerteza incalma, afastando o fantasma do egoísmo, levo do sonho e desejada palma. Na minha mente, no meu ego uma voz surgiu em tom de preocupação!
Estava tão concentrado que de repente indaguei: Que beleza meu rádio saiu da letargia que jazia, e eu, na minha alegria comecei a indagar. Meu dileto amigo não me faça despeito responda por que não queres falar. Ele não titubeou, estou cansado, destronado e com vontade de provocar. Estou de ressaca pelo mau trato que estou passando. Não consigo transmitir bons programas, bons musicais, não alegro mais as crianças e estou com azia de tanta pornofonia e pornografia que querem que eu coloque no ar. Não me sinto a vontade, estou magoado, pois estou perdendo minha finalidade e já tenho bastante idade e não querem me respeitar. Meu pai Marconi deve está tremendo pela falta de respeito para com ele. Meu nascimento se deu em data festiva, e eu esperava que essa festa fosse eterna, mas a programação que colocam para eu transmitir deixa muito a desejar.
Fico a lamentar, mas os responsáveis por minha manutenção não me dão a mão, e meu deixam ao léu, e envergonhado vou levando a contragosto a muitas paragens as ondas sonoras que saem de mim. E assim, perdido num labirinto, muito mais burro é como me sinto, já nem soneto eu faço mais! Foi nesse momento que entendi o porquê da teimosia do meu companheiro dileto em teimar e o som ocultar. Pertencemos a uma grande associação que luta com muito denodo e esforço para a qualidade da programação do rádio melhorar. O rádio hoje está muito judiado, pois alguns profissionais querem audiência a todo custo, no apelo que não deveria existir, e que os que fazem a Anatel cumprissem seus papéis, e a programação melhorar.
Infelizmente, hoje a alegria do rádio virou sofrimento, pois pela sua importância tudo se transmite como: guerras, mortes, crimes, violência de todo matiz, vernacular pornográfico é o tom alto dos que fazem o rádio nos dias atuais. Aquelas músicas antigas, dos anos 50, 60,70 não se ouve mais. As novelas de rádio sumiram, escafederam-se. O rádio está doente e nós profissionais desse invento maravilhoso temos que tomar ciência que o rádio não é uma arma e sim um deleite para todos nós. Ser prego é mais difícil que ser martelo! No sofrimento se conhece o verdadeiro homem: ele, ou amadurece, ou se revolta e apodrece! No frigir dos ovos nos parece que o homem não quer evoluir e nessa psicosfera de incerteza o meu divertimento continuará a ser um grande sofrimento. A passividade diante do erro é um misto de omissão e covardia.
O que diria hoje o grande padre Roberto Landell de Moura, outro grande inventor que só não ganhou a patente pelas dificuldades que passou, mas fiquem sabendo que ele não é nenhum algoz, mas foi o inventor que como sua réplica conseguiu transmitir a voz pela primeira vez. Fica a questão Marconi X Landell de Moura. Quero que tudo se exploda, mas que o rádio tenha a destinação que merece seus ouvintes, que já de ouvidos calejados reclamam todos os dias, por momentos extensos de alegria e que um sofrimento nojento não lhe bata a porta, visto que o povo gosta de cultura e não de apelações. Que meu querido radinho seja tratado com amor e carinho. Pense nisso!
ANTONIO PAIVA RODRIGUES-MEMBRO DA ACI-DA ALOMERCE- DA UBT-DA AVESP E DA AOUVIRCE