PORTAL DE VIDRO
Os cabelos soltos emolduravam seu rosto sombrio enquanto as águas do rio deslizavam. Estivera ontem ali, naquele mesmo lugar, mas não era mais a mesma pessoa. Seu coração batia em outro compasso, seus olhos, marejados de lágrimas... As margaridas não salpicavam mais a grama e o dia não mais refletia alegria no espelho da natureza. A tempestade levara toda a transparência das águas. Milhares de pétalas haviam se esvaído pelo campo. Restaram poucos e ralos caules destroçados. O céu cinzento começava a clarear. Quando ela voltou a sorrir, já não eram margaridas a florir. O mato crescia sem cuidado e o rio, mais largo, sofria com a erosão de seus braços. O que era, tinha deixado de ser...