FACAS CONTRA BRUCE LEE
A festa corria tranqüila, até que Marta olhou para André. E ele se aproximou, e a convidou pra dançar. Durante a segunda dança, chegou Miguel, que, ao ver Marta agarrada com aquele desconhecido, sentiu o demônio sorrir em sua cabeça.
Miguel, montado no cão, voou para cima de André. Marta reagiu gritando. O namoro estava no fim: Miguel não mandava nela.
André se moveu como um lagarto: rápido, leve, lesto. Miguel se estatelou no meio do salão e os outros abriram uma clareira. Marta gritava mais: Miguel devia ir embora.
Ainda no chão, Miguel sacou uma faca. Mais um ia para a lista dos feridos pelo filho do deputado Arcanjo. O povo ao redor sabia.
Miguel atacou. André girou como se um bailarino fosse. O chute atingiu as costelas de Miguel, que, com um gemido, denunciou a dor. Na ponta da sala, apareceram os outros filhos do deputado Arcanjo, Pedro e Artur, meninos crescidos sob a sombra de mil mimos.
Agora aquele desconhecido ia sofrer. Marta engoliu o grito e deu dois passos para trás: a desgraça estava feita.
Artur, o caçula, correu atabalhoado em direção a André e recebeu um, a palavra é essa, murro no nariz. O barulho de coisa quebrando foi mais alto que o som da música, um forró eletrônico. Artur despencou, o nariz era um chafariz de sangue.
Pedro, o filho do meio, vacilou. Seus irmãos rolavam no chão, feridos. E ele via em André uma reencarnação de Bruce Lee, filmes que ele guardava na memória, vistos em um cine-poeira perdido no tempo.
Bruce Lee.
Quem podia vencer Bruce Lee?
Miguel tentou se levantar, faca em punho, tinha de acertar aquela maldita reencarnação de Bruce Lee. Levou um chute no joelho esquerdo. Caiu. Um grito seco.
Pedro olhava, fascinado, medroso. Os outros, reverentes, marcavam a distância. Artur se ergueu, sangue lavando sua boca. Meio cego, parecia querer entender o que acontecia.
Bruce Lee cercava os dois, saltitante, desafiador.
Decidiu atacar e quase não sentiu a pancada no meio de seu peito e o corpo tombando, pesado. O mundo girou diante de seus olhos e as vozes em ó ecoavam pelo salão. De pé, desafiador, Bruce Lee.
Artur, rosto de monstro de filme B, puxou uma faca e levou mais um golpe no rosto. André segurou o braço esquerdo do caçula e o som de alguma coisa quebrando ecoou. Mais um ó!
O dono da festa gritou parem com isso agora!
André se voltou para Marta: é teu namorado? Apontou para Miguel.
Ela sorriu, sem graça: ex-namorado! Nunca se conformou por eu tê-lo deixado...
André: você é chave de cadeia, garota! Vou embora. Alguém vai querer me impedir?
Ninguém se habilitou a segurar Bruce Lee. Afinal, ele não havia começado a briga. E os irmãos Arcanjo estavam sempre aprontando confusão. Bem feito!
Saiu sem pressa, faceiro. Atrás de si, a celeuma de gemidos dos feridos misturados aos comentários de espanto: parecia um filme!
André chegou no hotel e foi direto para o quarto. Ajeitou a mala. Ia embora no ônibus das onze e meia da noite. O telefone tocou.
Alô! Boa noite! Deu tudo certo, como o senhor queria. A moça se engraçou comigo e eu a tirei pra dançar... Foi fácil! Oferecida a menina... provinciana, não é? E eu, o estrangeiro charmoso... Foi como o senhor disse: o menino já chegou agressivo. E eu não tive surpresa, bati mesmo, sem dó. Vai ficar de molho um bom tempo, podes crer! Os outros, também. São valentes, mas estabanados. Bati com firmeza, machuquei... Eles vão parar com essas valentias logo logo. E o povo vai rir da cara deles por um bom tempo... E o dinheiro, recebo quando? Amanhã, na capital? Ótimo! O senhor não vai mais perder votos por causa da grosseria deles não, deputado Arcanjo! Pode acreditar! Qualquer coisa, é só me chamar! E sua mulher, o que ela diz? Ela não sabe de nada? Tem mãe que mima demais os filhos, não é? Mas estou aqui para tirar esses mimos... Precisar, pode chamar que eu volto!
A festa corria tranqüila, até que Marta olhou para André. E ele se aproximou, e a convidou pra dançar. Durante a segunda dança, chegou Miguel, que, ao ver Marta agarrada com aquele desconhecido, sentiu o demônio sorrir em sua cabeça.
Miguel, montado no cão, voou para cima de André. Marta reagiu gritando. O namoro estava no fim: Miguel não mandava nela.
André se moveu como um lagarto: rápido, leve, lesto. Miguel se estatelou no meio do salão e os outros abriram uma clareira. Marta gritava mais: Miguel devia ir embora.
Ainda no chão, Miguel sacou uma faca. Mais um ia para a lista dos feridos pelo filho do deputado Arcanjo. O povo ao redor sabia.
Miguel atacou. André girou como se um bailarino fosse. O chute atingiu as costelas de Miguel, que, com um gemido, denunciou a dor. Na ponta da sala, apareceram os outros filhos do deputado Arcanjo, Pedro e Artur, meninos crescidos sob a sombra de mil mimos.
Agora aquele desconhecido ia sofrer. Marta engoliu o grito e deu dois passos para trás: a desgraça estava feita.
Artur, o caçula, correu atabalhoado em direção a André e recebeu um, a palavra é essa, murro no nariz. O barulho de coisa quebrando foi mais alto que o som da música, um forró eletrônico. Artur despencou, o nariz era um chafariz de sangue.
Pedro, o filho do meio, vacilou. Seus irmãos rolavam no chão, feridos. E ele via em André uma reencarnação de Bruce Lee, filmes que ele guardava na memória, vistos em um cine-poeira perdido no tempo.
Bruce Lee.
Quem podia vencer Bruce Lee?
Miguel tentou se levantar, faca em punho, tinha de acertar aquela maldita reencarnação de Bruce Lee. Levou um chute no joelho esquerdo. Caiu. Um grito seco.
Pedro olhava, fascinado, medroso. Os outros, reverentes, marcavam a distância. Artur se ergueu, sangue lavando sua boca. Meio cego, parecia querer entender o que acontecia.
Bruce Lee cercava os dois, saltitante, desafiador.
Decidiu atacar e quase não sentiu a pancada no meio de seu peito e o corpo tombando, pesado. O mundo girou diante de seus olhos e as vozes em ó ecoavam pelo salão. De pé, desafiador, Bruce Lee.
Artur, rosto de monstro de filme B, puxou uma faca e levou mais um golpe no rosto. André segurou o braço esquerdo do caçula e o som de alguma coisa quebrando ecoou. Mais um ó!
O dono da festa gritou parem com isso agora!
André se voltou para Marta: é teu namorado? Apontou para Miguel.
Ela sorriu, sem graça: ex-namorado! Nunca se conformou por eu tê-lo deixado...
André: você é chave de cadeia, garota! Vou embora. Alguém vai querer me impedir?
Ninguém se habilitou a segurar Bruce Lee. Afinal, ele não havia começado a briga. E os irmãos Arcanjo estavam sempre aprontando confusão. Bem feito!
Saiu sem pressa, faceiro. Atrás de si, a celeuma de gemidos dos feridos misturados aos comentários de espanto: parecia um filme!
André chegou no hotel e foi direto para o quarto. Ajeitou a mala. Ia embora no ônibus das onze e meia da noite. O telefone tocou.
Alô! Boa noite! Deu tudo certo, como o senhor queria. A moça se engraçou comigo e eu a tirei pra dançar... Foi fácil! Oferecida a menina... provinciana, não é? E eu, o estrangeiro charmoso... Foi como o senhor disse: o menino já chegou agressivo. E eu não tive surpresa, bati mesmo, sem dó. Vai ficar de molho um bom tempo, podes crer! Os outros, também. São valentes, mas estabanados. Bati com firmeza, machuquei... Eles vão parar com essas valentias logo logo. E o povo vai rir da cara deles por um bom tempo... E o dinheiro, recebo quando? Amanhã, na capital? Ótimo! O senhor não vai mais perder votos por causa da grosseria deles não, deputado Arcanjo! Pode acreditar! Qualquer coisa, é só me chamar! E sua mulher, o que ela diz? Ela não sabe de nada? Tem mãe que mima demais os filhos, não é? Mas estou aqui para tirar esses mimos... Precisar, pode chamar que eu volto!