Era certo e sabido que acontecia sempre o mesmo: combinava-se um passeio, uma saída e ele adoecia.
Uma questão nervosa, para uns; manha, para outros. A verdade é que se enchia de febre e, embora se lhe mandasse fazer análises, nada se encontrava...
Que se lembrassem familiares e amigos, estes estranhos comportamentos tiveram início depois de uma viagem que duraria 3 meses em que integrou uma equipa de estudo que se embrenhou nas florestas frondosas da América Central.
Teria ele sido infectado por algum estranho vírus? Como já referi, depois de muitos exames nada foi detectado.
A equipe de estudo era formada por 8 estudantes de arqueologia, um Professor de Antropologia especializado em cultura Maya, um intérprete de língua espanhola y Don Juan Gomez, el Algodón (assim chamado por todos pelo seu carácter afável e conciliador), mestre em ervas nativas supostamente curativas.
A viagem propriamente dita começou quando todos se reuniram nas Ruínas de Tikal, a norte da Guatemala. Manuel Antunes integrou-se sem problemas na equipe; sendo todos da mesma área de estudos e portanto com a mesma linguagem cultural embora de vários países não houve problemas. Entre todos falavam em inglês e o intérprete, Don Filomeno, el Gavilán, seria o contacto com os nativos que no geral se expressavam e entendiam o espanhol.
Em Tikal serviram-se dos conhecimentos sempre úteis de um Guia Turístico já conhecido do Professor de Antropologia.
Depois da volta pelas Ruínas, o Guia conduziu-os a uma zona vedada aos turistas, um caminho íngreme pela floresta densa que os levou ao que ele chamou de La Cueva com a informação de que ali se encontravam não só restos humanos como plantas, algumas muito diferentes das encontradas no resto da floresta tropical circundante. Don Juan Gomez estava encantado com a perspectiva de encontrar ervas desconhecidas que viessem a engrossar a sua já vasta colecção.
Chegados à La Cueva, o Guia Turístico despediu-se e regressou ao seu trabalho.
O grupo estava arrasado de cansaço não só porque estavam carregados com as mochilas bem pesadas, como pelo calor húmido e pegajoso que se fazia sentir nesse dia. Era necessário montar o acampamento mas, tomando o conselho do Guia, dirigiram-se a um pequeno lugarejo a que ele chamou El Pueblo.
Don Filomeno adiantou-se ao grupo e em espanhol explicou ao que vinham: autorização para acamparem nas suas terras, ali perto de La Cueva. Destacou-se do grupo nativo, um homem bastante idoso que gesticulando foi dizendo que era muy peligroso quedarse allá... Por mais que lhe perguntassem o porquê, mais nada lhe conseguiu arrancar sobre o perigo de que falava.
-Vayanse y tengan mucha suerte! Pueden quedarse allá, si!
Com a autorização dada regressaram para La Cueva e trataram de montar as tendas e organizar uma refeição para a noite que entretanto estava a cair.
Da floresta chegavam os sons das aves que se acomodavam para a noite, o bater de milhares de asas dos morcegos que entretanto começaram a sair em nuvens de La Cueva para a sua caçada nocturna de insectos. Ouviram um rugido que imaginaram ser de um jaguar.
O Professor já habituado a estas incursões na selva explicou-lhes os cuidados a ter ao montarem o acampamento. Dividiram-se as tarefas e marcaram-se os turnos de vigia para a noite, sempre aos pares. Manuel Antunes ficou no segundo turno com um estudante do Senegal.
Quando terminou o primeiro turno de vigilância estes foram à tenda onde estavam os do segundo turno, acordaram-nos e foram-se deitar.
No céu, a Lua quase cheia brilhava entre a folhagem proporcionando alguma claridade.
Manuel e o seu companheiro estavam atentos a qualquer movimento suspeito. Estava tudo tranquilo excepto os ruídos normais da floresta. Pouco faltava para o turno acabar quando ouvem gargalhadas abafadas vindas da abertura de La Cueva.
Olharam um para o outro e acenaram afirmativamente à pergunta não verbalizada mas feita com um arquear de sobrancelhas. Dirigiram-se o mais silenciosamente que puderam em direcção às gargalhadas. Elas vinham do interior de La Cueva. Aproximaram-se mais. Manuel ia na dianteira.
O terreno apresentava uma ligeira inclinação e foi por aí que começaram a descer.
Nisto há um clarão como o de um flash e um ruído de sucção e Manuel Antunes desaparece... Estava ali e depois já lá não estava!
O jovem que o acompanhava imediatamente regressou ao acampamento e dá o alarme tentando explicar atabalhoadamente os momentos vividos em La Cueva. Acendem-se as lanternas e todos se dirigem para a zona chamando por Manuel aos gritos e nada aconteceu.
Assim que o dia nasceu dirigiram-se ao lugarejo El Pueblo e contaram o que se passara e pediram ajuda para procurarem o estudante desaparecido.
O mesmo homem idoso da véspera dirigindo-se a Don Filomeno disse:
-Son los hombres de las estrellas. En la Cueva hay una puerta y un camino para las estrellas. Uno puede cairse en la puerta y jamas lo veremos! Ayer les platiqué de los peligros. Pueden llamar la policia pero nunca podran encontrarlo! Se fue para las estrellas...
O grupo regressou ao acampamento completamente desolado, arrumaram as coisas e fizeram o caminho de regresso a Tikal o mais depressa que puderam. Foram procurar as autoridades das Ruínas explicando o sucedido. Organizaram-se batidas pela floresta circundante, entraram em La Cueva em grandes grupos chamando por Manuel e nada viram ou ouviram. A Polícia tomou conta do ocorrido e chamaram-se membros armados do Exército que se internaram por todo o lado sem efeito.
O grupo de estudo desfez-se e cada um regressou ao seu país.
Os pais de Manuel foram avisados oficialmente do seu desaparecimento pelo Governo Guatemalteco.
Don Juan Gomez, El Algodón, não quis ir à procura de plantas e ervas estranhas.
Ao fim de mais ou menos um mês as buscas foram encerradas e em Tikal o assunto foi esquecido.
Um dia, 4 anos e 8 meses depois, aparece nas Ruínas um jovem que diz chamar-se Manuel Antunes e que fora abandonado na véspera na floresta, perto de La Cueva, pelos seus companheiros de estudo com quem estava acampado...
Depois de chamada a polícia, um deles recordava-se de anos antes ter andado à procura de um estudante perdido.
As autoridades foram chamadas e confirmou-se a identidade de Manuel que foi enviado para sua casa para grande alegria de todos, familiares e amigos.
Para ele não passaram aqueles anos e meses. Está tal e qual como no dia em que chegou a La Cueva. Não se lembra de nada em especial que se tivesse passado, apenas se enche de febre cada vez que se trata de sair de casa para um passeio ou uma simples ida ao café...
Beijinhos,
Uma questão nervosa, para uns; manha, para outros. A verdade é que se enchia de febre e, embora se lhe mandasse fazer análises, nada se encontrava...
Que se lembrassem familiares e amigos, estes estranhos comportamentos tiveram início depois de uma viagem que duraria 3 meses em que integrou uma equipa de estudo que se embrenhou nas florestas frondosas da América Central.
Teria ele sido infectado por algum estranho vírus? Como já referi, depois de muitos exames nada foi detectado.
A equipe de estudo era formada por 8 estudantes de arqueologia, um Professor de Antropologia especializado em cultura Maya, um intérprete de língua espanhola y Don Juan Gomez, el Algodón (assim chamado por todos pelo seu carácter afável e conciliador), mestre em ervas nativas supostamente curativas.
A viagem propriamente dita começou quando todos se reuniram nas Ruínas de Tikal, a norte da Guatemala. Manuel Antunes integrou-se sem problemas na equipe; sendo todos da mesma área de estudos e portanto com a mesma linguagem cultural embora de vários países não houve problemas. Entre todos falavam em inglês e o intérprete, Don Filomeno, el Gavilán, seria o contacto com os nativos que no geral se expressavam e entendiam o espanhol.
Em Tikal serviram-se dos conhecimentos sempre úteis de um Guia Turístico já conhecido do Professor de Antropologia.
Depois da volta pelas Ruínas, o Guia conduziu-os a uma zona vedada aos turistas, um caminho íngreme pela floresta densa que os levou ao que ele chamou de La Cueva com a informação de que ali se encontravam não só restos humanos como plantas, algumas muito diferentes das encontradas no resto da floresta tropical circundante. Don Juan Gomez estava encantado com a perspectiva de encontrar ervas desconhecidas que viessem a engrossar a sua já vasta colecção.
Chegados à La Cueva, o Guia Turístico despediu-se e regressou ao seu trabalho.
O grupo estava arrasado de cansaço não só porque estavam carregados com as mochilas bem pesadas, como pelo calor húmido e pegajoso que se fazia sentir nesse dia. Era necessário montar o acampamento mas, tomando o conselho do Guia, dirigiram-se a um pequeno lugarejo a que ele chamou El Pueblo.
Don Filomeno adiantou-se ao grupo e em espanhol explicou ao que vinham: autorização para acamparem nas suas terras, ali perto de La Cueva. Destacou-se do grupo nativo, um homem bastante idoso que gesticulando foi dizendo que era muy peligroso quedarse allá... Por mais que lhe perguntassem o porquê, mais nada lhe conseguiu arrancar sobre o perigo de que falava.
-Vayanse y tengan mucha suerte! Pueden quedarse allá, si!
Com a autorização dada regressaram para La Cueva e trataram de montar as tendas e organizar uma refeição para a noite que entretanto estava a cair.
Da floresta chegavam os sons das aves que se acomodavam para a noite, o bater de milhares de asas dos morcegos que entretanto começaram a sair em nuvens de La Cueva para a sua caçada nocturna de insectos. Ouviram um rugido que imaginaram ser de um jaguar.
O Professor já habituado a estas incursões na selva explicou-lhes os cuidados a ter ao montarem o acampamento. Dividiram-se as tarefas e marcaram-se os turnos de vigia para a noite, sempre aos pares. Manuel Antunes ficou no segundo turno com um estudante do Senegal.
Quando terminou o primeiro turno de vigilância estes foram à tenda onde estavam os do segundo turno, acordaram-nos e foram-se deitar.
No céu, a Lua quase cheia brilhava entre a folhagem proporcionando alguma claridade.
Manuel e o seu companheiro estavam atentos a qualquer movimento suspeito. Estava tudo tranquilo excepto os ruídos normais da floresta. Pouco faltava para o turno acabar quando ouvem gargalhadas abafadas vindas da abertura de La Cueva.
Olharam um para o outro e acenaram afirmativamente à pergunta não verbalizada mas feita com um arquear de sobrancelhas. Dirigiram-se o mais silenciosamente que puderam em direcção às gargalhadas. Elas vinham do interior de La Cueva. Aproximaram-se mais. Manuel ia na dianteira.
O terreno apresentava uma ligeira inclinação e foi por aí que começaram a descer.
Nisto há um clarão como o de um flash e um ruído de sucção e Manuel Antunes desaparece... Estava ali e depois já lá não estava!
O jovem que o acompanhava imediatamente regressou ao acampamento e dá o alarme tentando explicar atabalhoadamente os momentos vividos em La Cueva. Acendem-se as lanternas e todos se dirigem para a zona chamando por Manuel aos gritos e nada aconteceu.
Assim que o dia nasceu dirigiram-se ao lugarejo El Pueblo e contaram o que se passara e pediram ajuda para procurarem o estudante desaparecido.
O mesmo homem idoso da véspera dirigindo-se a Don Filomeno disse:
-Son los hombres de las estrellas. En la Cueva hay una puerta y un camino para las estrellas. Uno puede cairse en la puerta y jamas lo veremos! Ayer les platiqué de los peligros. Pueden llamar la policia pero nunca podran encontrarlo! Se fue para las estrellas...
O grupo regressou ao acampamento completamente desolado, arrumaram as coisas e fizeram o caminho de regresso a Tikal o mais depressa que puderam. Foram procurar as autoridades das Ruínas explicando o sucedido. Organizaram-se batidas pela floresta circundante, entraram em La Cueva em grandes grupos chamando por Manuel e nada viram ou ouviram. A Polícia tomou conta do ocorrido e chamaram-se membros armados do Exército que se internaram por todo o lado sem efeito.
O grupo de estudo desfez-se e cada um regressou ao seu país.
Os pais de Manuel foram avisados oficialmente do seu desaparecimento pelo Governo Guatemalteco.
Don Juan Gomez, El Algodón, não quis ir à procura de plantas e ervas estranhas.
Ao fim de mais ou menos um mês as buscas foram encerradas e em Tikal o assunto foi esquecido.
Um dia, 4 anos e 8 meses depois, aparece nas Ruínas um jovem que diz chamar-se Manuel Antunes e que fora abandonado na véspera na floresta, perto de La Cueva, pelos seus companheiros de estudo com quem estava acampado...
Depois de chamada a polícia, um deles recordava-se de anos antes ter andado à procura de um estudante perdido.
As autoridades foram chamadas e confirmou-se a identidade de Manuel que foi enviado para sua casa para grande alegria de todos, familiares e amigos.
Para ele não passaram aqueles anos e meses. Está tal e qual como no dia em que chegou a La Cueva. Não se lembra de nada em especial que se tivesse passado, apenas se enche de febre cada vez que se trata de sair de casa para um passeio ou uma simples ida ao café...
Beijinhos,