Histórias de um eremita mal acostumado à companhia
De certa forma...sempre estive sozinho. Acostumei-me a "estar sozinho". A não ter relações sentimentalistas de aprofundamento perigoso e torturante. A não ter com quem compartilhar alegrias e tristezas. Talvez não as tivesse, apenas tivesse o caminho monstruoso pela frente. Monstruoso, tortuoso, por vezes tenebroso. E após tanto tempo acostumado a caminhar no escuro, surge a luz, a companhia, calor humano aquecendo um vagante ser que só sabia andar, mas não sabia pra onde ir. Os olhos ficam mal acostumados à luz. Acham que podem tudo, que veem além do que podem alcançar, que podem ter tudo que lhe foi mostrado. Vã filosofia a dos olhos. Em meio a compilação complexa de fatos randômicos, essa vã filosofia toma conta do destino e das pernas do vagante, agora não mais errante, pode ver o caminho a seguir.Apesar de só conhecer a melancolia, ele gosta de experimentar a alegria, assim como qualquer um. No fundo, ele sabe que aquilo acaba. Porém o controle que ele perdeu diz para andar até o fim por ali, aproveitar a iluminação e explorar o máximo possível. E o que acontece com a maioria esmagadora dos tipo de luz? Se apaga em algum momento. Essa provavelmente se apaga quando ele chega no fim do caminho, a ponto de tocar lá e ter dito "cheguei". O homem se acostuma com tudo, e fica periculosamente mal acostumado à companhia. É a velha teoria de "ser forte para ter a força de acreditar em outros, e ser mais forte para ter força de acreditar que realmente não se tem mais ninguém, só se conta consigo mesmo.". A maioria dos andantes mesclam as duas coisas. Alguns poucos criam alguma luz que não se apaga por vontade própria ou má vontade. Outros, mais que poucos, acostumam se a andar no escuro. A entender os caminhos com vários tipos de olhos.