Uma nova chance para viver - Final

Novamente uma sensação estranha tomou conta de seu corpo era como se estivesse sendo puxada por algo e como que num piscar de olhos estava em outro lugar. Lugar esse que imediatamente reconheceu: a praia que sempre sonhava em visitar. O local da sua viagem impossível. Apesar de tudo o que havia presenciado antes, sentia uma grande paz dentro de si. Ela estava na areia, a poucos metros do mar. O céu estava límpido, com um azul profundo e algumas gaivotas sobrevoavam o mar, mas de uma maneira diferente, como se estivessem ali por algum motivo, dando algum sinal, algum código. O mar estava calmo, com poucas ondas. E uma leve brisa tocava seu rosto. Aproximou-se mais e começou a andar a beira do mar. Pequenas ondas vinham e molhavam seus pés. A água estava morna e ela sentia um enorme alívio quando as ondas encontravam sua pele fria. Olhou ao redor e só então percebeu que a praia quase estava deserta, a não ser por um homem que estava parado a beira do mar, com as mãos nos bolsos, olhando fixamente para o horizonte onde o mar se misturava a imensidão daquele céu azul sem nuvens.

Continuou andando. Só então percebeu que não estava mais com o vestido de festa e sapato de salto alto, e sim com um vestido branco, de tecido leve e confortável, e estava descalça. Não sabia como, mas agora estava a pouquíssimos metros do homem, que continuava na mesma posição. Em outra situação jamais teria se aproximado tanto assim de um estranho, mas se aquele homem quisesse ter feito algo com ela já teria feito a muito tempo. Uma vez que estavam sozinhos ali. Mas esse homem... Era como se ele a atraísse de alguma forma. Ele lhe transmitia uma sensação de alegria, paz e amor que ela nunca tinha sentido antes por outra pessoa, ainda mais por um desconhecido.

Ele também vestia roupas brancas. Mesmo sem ter visto seu rosto, pelo seu perfil podia ver que ele era um homem bonito. Aproximou-se até ficar a poucos centímetros de distância. Não disse nada e virou-se para também contemplar o horizonte. Então depois de alguns minutos ele quebrou o silêncio.

― Você não deveria estar aqui Leslie. ― Era a voz mais bonita e suave que já ouvira em toda a sua vida. Teve uma forte sensação de que conhecia aquela voz. Ele continuava imóvel.

Ela abriu a boca e fez menção de dizer algo, mas calou-se. Tinha tantas perguntas a fazer, mas ao mesmo tempo a estranha sensação de já conhecer todas as respostas. Ele continuou.

― Leslie, você deve voltar. Há muita coisa a aprender.

― O quê? Por que? ― Esperou por uma resposta, mas ela não veio. ― Me diz! O que eu tenho que aprender? Tudo que aprendi até hoje foi sobre como as pessoas são falsas, como é fácil para elas quebrarem meu coração e como é difícil manter um sorriso no rosto quando tudo o que você quer é por para fora toda a dor que lhe sufoca a garganta. É isso que você chama de aprender? ― O homem permaneceu em silêncio, imóvel. ― Acho que não. E não quero voltar, minha vida é tão...

― Não! Nunca mais diga isso Leslie. Sua vida é maravilhosa ― Por um momento teve a impressão de que ele estava sorrindo, mas depois abandonou essa ideia quando o desconhecido continuou em um tom sério ― Só você não vê isso. Eles tentaram fazer de tudo para que você pudesse compreender isso e conseguisse... ― Calou-se abruptamente.

― Conseguisse o quê?

― Precisa ir agora. Apenas lembre-se a vida é bela, embora o mundo tenha se tornado um lugar perverso. Reaprenda a ouvir o que as pessoas gritam em silêncio, e o mais importante, ouça o seu coração. Reaprenda a viver. Veja os espetáculos que a natureza nos proporciona a cada amanhecer e entardecer. Sinta o cheiro do orvalho da manhã. Sinta o vento quando este gentilmente toca a sua pele. Como essa leve brise que você senti acariciar gentilmente o seu rosto agora. Olhe para o céu e veja que o Sol continua brilhando, por sobre as nuvens. À noite... Ah, Leslie, “À noite o céu é perfeito.” Procure pela Lua, pelas estrelas, encontre a sua na imensidão do universo. Todos nós temos uma estrela, mesmo que pareçam todas iguais, há sempre aquela que para cada um de nós, brilha mais intensamente... E não se preocupe com o tempo. Terá o suficiente para fazer tudo isso e muito mais. E por fim faça aquilo que te fizer feliz, mesmo que os outros não entendam. O que realmente importa é uma única pessoa: você.

Mesmo depois de todo esse discurso o homem não se moveu, pelo menos não na direção dela, fazia apenas alguns gestos com as mãos, mas não a encarou. Antes que pudesse fazer alguma pergunta, dentre tantas que tinha na ponta da língua, ele virou-se de repente e a encarou. Os olhos dele brilhavam de ternura. Ele realmente era lindo, seus olhos eram tão azuis quanto o céu naquele momento, seu rosto tinha fortes com uma barba rala. Ele sorriu. Um sorriso de dentes brancos e bem alinhados, aquele homem era...

― Vá agora. Não tenha medo, você saberá o que fazer. ― Ele disse dando-lhe um abraço apertado.

― Não espere. Como você sabe meu nome, minha vida... Qual seu nome? O que eu saberei? O quê... ― Já era tarde demais, e tudo ficou escuro.

― Mais uma vez. ― O médico posicionou os polos de um desfibrilador contra seu peito. Depois de dois choques o corpo saltou e caiu sobre cama dura, então ela deu um suspiro profundo, e o coração voltou a bater. Houve um zigue-zague trêmulo no monitor. Ela estava voltando.

Leslie passou por 11 cirurgias. Perdeu o movimento do corpo por alguns meses. Ficou sobre cadeira de rodas por 2 anos, até que depois de muita fisioterapia e força de vontade, recuperou-se completamente. A única sequela foi a perda do movimento da mão esquerda.

As pessoas sempre a lembravam de que ela nasceu de novo. E ela sabia que isso era verdade. Finalmente ela estava vivendo. Seguiu os conselhos daquele homem, daquele belo desconhecido. Aquilo sempre foi um mistério para ela, e nunca mencionou o acontecido com ninguém, pois não acreditariam e diriam que foi apenas um delírio. Durante a recuperação passou um tempo com seus pais, em outra cidade. E lá resolveu procurar outro emprego, outro apartamento, outra vida...

Estava no avião, a destino de sua viagem dos sonhos, em poucas horas estaria lá. Ela não conseguia acreditar, finalmente depois de tanto tempo iria conhecer aquele lugar. A praia que sempre planejou visitar, mesmo não sabendo o por quê. Tentava se convencer que a beleza do lugar a atraiu, mas era algo muito mais além... Apesar disso, estava muito ansiosa e alegre.

Assim que chegou, foi direto para o hotel em que fez a reserva, guardou seus pertences e saiu em direção a praia. Já tinha todas as informações que queria e precisaria. A praia era particular, e apenas quem se hospedava no hotel tinha acesso a ela. Exatamente por esse motivo escolheu aquele hotel, mesmo que o preço fosse um pouco salgado, valia cada centavo.

Finalmente. Lá estava ela. Seus olhos estavam molhados de emoção. Sentiu como se conhecesse cada canto daquele lugar, como se tivesse nascido e morado ali toda a sua vida.

Caminhava calmamente pela praia, enquanto observava o local: havia um grupo de amigos se divertindo no mar, enquanto outros fotografavam algo; além algumas famílias com seus guarda-sóis. Havia também algumas pessoas afastadas espalhadas pela areia ao redor do mar.

Tirou os chinelos e caminhou calmamente em direção ao mar. A areia quente e limpa, massageava seus pés. Enquanto caminhava observava a paisagem, o céu estava azul e limpo, o mar calmo, e... gaivotas sobrevoavam o céu, do mesmo modo como em seu “sonho”. Caminhou sem rumo pela praia, perdida em pensamentos. Quando deu por si já havia se afastado das outas pessoas, mas ainda podia ouvir vozes agitadas. Mesmo assim resolveu voltar, olhava para o mar e sem perceber esbarou em um homem que estava parado, Leslie se desculpou, o homem virou-se para fita-la e ela imediatamente o reconheceu. Era ele. O homem que praticamente, com seus conselhos mudou a sua vida. Aquele mesmo homem que a cinco anos ela encontrou em seus “sonhos”...

Fim?!

Ghéssyka
Enviado por Ghéssyka em 24/06/2010
Reeditado em 20/05/2011
Código do texto: T2337935
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