Uma nova chance para viver

Antes de sair se olhou novamente no espelho, parou e novamente fez outra crítica. “Esse vestido não combinou comigo... Cadê os meus sapatos? Isso só acontece comigo. Sempre eu. O que eu fiz para merecer isso?...” Os sapatos estavam logo a sua frente. “Ah, ai está.” Calçou os sapatos e saiu do quarto. “Cadê as minhas chaves? Mais essa agora. Não sei porque fui aceitar aquele convite. Espere, acho que posso desistir agora. Não, não. Já perdi muito tempo tentando me arrumar para essa porcaria de festa, então é melhor eu ir logo de uma vez. Mas cadê aquelas chaves...”Quando olhou para baixo, lá estavam as chaves em uma pequena mesa ao lado da porta da sala. Saiu e entrou no carro de péssimo humor.

Enquanto dirigia pensava em como sua vida era desgraçada. Pelo menos era o que ela pensava. “Que belo emprego eu tenho. Falto morrer de tanto trabalhar, mal dá para me alimentar e moro em um cubículo. Só trabalho naquele lugar porque preciso daquele dinheiro miserável e que não sobra nem um tostão no final do mês. Pelo que vejo nunca conseguirei fazer aquela minha viagem, que planejo a anos.” Na verdade seu emprego era bom, o dinheiro que recebia também. Morava em um apartamento pequeno, mas confortável, já que morava sozinha. O dinheiro não sobrava porque todo mês estourava o limite do cartão de crédito em futilidades. Realmente tinha planejado essa viagem a anos. Mas nunca conseguia. Ela queria ir para 'aquela' praia, que ficava em um lugarzinho distante e reservado. Um lugar lindo, mas que só havia visto por fotos ou vídeos. Não via a hora de realizar essa viagem. Estava cansada daquela rotina monótona que estava sua vida. Dizia que era o trabalho que ocupava todo o seu tempo. Uma mentira, pois entrava no trabalho às 8:00 horas da manhã, tinha 1 hora para almoço, e saia às 3:30 da tarde. Sobrava-lhe muito tempo para tentar mudar um pouco sua vida. Mas ela não pensava assim, e ocupava todo seu tempo reclamando de quão injusta era a sua vida.

“Minha nossa. Será que nunca vou chegar a essa festa? Ninguém merece, mal cheguei e já estou entediada e também desse jeito nunca vou chegar lá.”Acelerou o carro.

Por incrível que pareça em plena noite de sexta-feira a avenida estava calma e quase sem movimento. Parou em um cruzamento e esperou o sinal abrir. Quase que sem sentir, viu suas mão colocando o sinto de segurança, estava tão distraída que havia esquecido de colocá-lo. Estava perto do local da festa, faltavam apenas duas quadras. Finalmente o sinal abriu e ela seguiu em frente. Olhou para o lado esquerdo... direito... Foi quando viu um clarão se aproximando com uma velocidade vertiginosa. Acelerou o caro mas não adiantou, foi atingida por algo tão forte que seu carro rodopiou na avenida por quase vinte metros de distância, até bater de frente em um poste. Seu corpo chacoalhava dentro do carro, e o sinto de segurança, que lembrou de pôr alguns minutos antes, impediu que seu corpo fosse arremessado para fora do caro. Não conseguia mais sentir seu corpo completamente, não sentia dor alguma, apenas que suas forças estavam se acabando, lentamente. Era como se estivesse com muito sono, seus olhos foram ficando pesados e de repente caiu em sono profundo.

A cena era chocante: um carro que mais parecia um ferro velho amassado, estava no meio da avenida, enquanto o caminhão de carga enorme, que provocou o acidente fugia sem prestar socorro. Olhou novamente para o carro amassado e percebeu que havia alguém ali. Procurou por algum bolso em sua roupa a procura de um celular, mas usava apenas um vestido de festa. Olhou em volta procurando por um telefone publico e também não encontrou nada. Chegou mais perto e viu um corpo completamente ensanguentado, provavelmente de uma mulher, pois usava vestido e sapatos de salto alto. Apesar de todo o sangue pode reconhecer o vestido que a vitima usava. Era idêntico ao que havia comprado a duas semanas atrás e que estava usando agora. Os sapatos também eram parecidos. Não pôde ver o rosto da vítima, pois ela estava encostada no painel do carro. Não sabia o que fazer. Tentou pedir ajuda. Mas como? Foi então que um carro parou do outro lado da avenida e algumas pessoas desceram. Ela podia ler o pavor e o desespero estampado no rosto dessas pessoas. Uma delas rapidamente retirou o celular do bolso, discou algo e começou a falar desesperadamente. As outras se aproximaram a uma distância segura do carro amassado e puderam ver a vítima extremamente ferida.

― Chamem uma ambulância. ― Gritava ela.

Mas as pessoas não a davam atenção, sequer a olharam, era como se estivesse invisível. Então as pessoas voltaram para junto do carro e ficaram aguardando o resgate chegar, todas elas permaneceram em um silêncio angustiante.

E assim ficou durante algum tempo. Até ecoar ao longe as sirenes do carro do Corpo de Bombeiros e da ambulância, que rapidamente chegaram ao local e começaram a realizar seu trabalho. Estavam tendo muitas dificuldades em retirar a vítima, pois tinha que fazê-lo com extremo cuidado porque mesmo com os batimentos cardíacos escassos e a respiração falha, ela ainda estava viva. Depois de alguns penosos e decisivos minutos, finalmente conseguiram retirar a vítima e a imobilizar em uma maca que rapidamente foi levada para o carro de resgate, com todos os cuidados necessários, pois o estado da vítima era muito grave. Enquanto passavam com a maca ela se aproximou e olhou diretamente para o rosto daquele corpo ensanguentado e só então reconheceu. Era ela, sua roupa, seu rosto, seu corpo,.

― Não pode ser. ― Gritava desesperada ― Não sou eu... Como...? Não... Não... Isso é apenas um pesadelo. É, isso um terrível pesadelo.

As portas da ambulância foram fechadas pelo enfermeiro, e imediatamente o motorista deu partida para o hospital.

Ela olhou para suas mãos e sentiu algo estranho. Era como se estivesse desaparecendo no ar. Fechou os olhos, quem sabe assim não acordava daquele terrível pesadelo. Quando abriu novamente os olhos estava em uma sala branca, com várias pessoas ao seu redor. Reconheceu de imediato as roupas que elas vestiam: eram médicos e enfermeiras. Ela podia vê-los e ouvi-los claramente, embora seu corpo estivesse aberto sobre aquela cama cirúrgica.

― O quê? O que está acontecendo? Eu não posso estar morta. Não...

De repente a agitação tomou conta da sala:

― A pressão esta caindo!

O barulho dos batimentos no monitor tornou-se caótico.

― Deem-me o desfibrilador! ― Gritou o Doutor.

...

Ghéssyka
Enviado por Ghéssyka em 23/06/2010
Reeditado em 20/05/2011
Código do texto: T2335906
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