Contos de uma Gueixa- Os Segredos de Mike
Sei tudo sobre Sury. Começamos a investigá-la quando João a conheceu na faculdade. Não havia nada de anormal. Uma jovem fazendo faculdade de história, nada que chamasse a atenção a não ser o olhar.
Mesmo quando ela sorria uma pequena e muito discreta nuvem de tristeza cobria seu rosto, mas quando olhava nos olhos é como se fisgasse a alma das pessoas.
Quando se casaram tememos que Pedro dividisse com ela o segredo dos códigos. Eu e os outros três membros da organização “V” continuamos solteiros, só ele dividia a vida e tudo mais com uma mulher.
Com a data da unificação dos códigos (2012) se aproximando resolvemos vigiá-los e secretamente entramos nos computadores dele e dela, instalamos micro câmaras na sala e no quarto do casal.
Como eu fui o responsável pelo projeto tive a missão de ler o que escreviam e ouvir e ver o que falavam.
Não, Pedro nunca revelou nada sobre os códigos, mas ao poucos fui ficando fascinado por Sury.
Ela mantinha rituais de beleza, rituais femininos delicados e sensuais. Sempre fui muito profissional. Sabia o que não poderia ver. Sabia que havia um limite. Evitei ver e ouvir as partes mais íntimas dos vídeos, desligava e saía, pensava que não era certo, mas voltava excitado imaginando o que ela estaria fazendo.
Todas as manhãs eles faziam amor, ela geralmente tomava a iniciativa, deslizava suavemente as mãos pelas costas de Pedro, tentava acordá-lo com beijos leves na nuca, uma das mãos massageando o sexo e a outra mão fazendo carinhos leves no peito dele.
Nua, encostava então o corpo ao dele e com movimentos leves o excitava até que ele despertava totalmente excitado e faziam amor assim, ela em cima dele, nua, feliz, sorrindo e dizendo bom dia enquanto sentia todo o sexo dele dentro dela, ficavam se olhando e se tocando lentamente até que ele a segurava pelo quadril e a levava ao gozo, os dois juntos.
Eu me imaginava no lugar de Pedro, como seria sentir o corpo dela em minhas mãos, sentir o cheiro, o sabor, queria ser desejado por ela.
Quando Pedro saía de casa ela andava nua até a banheira branca, acendia apenas uma pequena luminária ao lado da banheira, cobria o corpo com espuma, pétalas de rosas e ligava o som com alguma música de piano ou cello e ficava ali, tocando o próprio corpo ou apenas sentindo a água relaxar cada músculo satisfeito do seu corpo de mulher.
No restante do dia ela saía, andava sempre cercada de livros e por onde passava fotografava tudo. Quando voltava pra casa era um deleite para mim.
Banho, edição de fotos, música, ela deitada na cama olhando para o nada pensando ou no notebook escrevendo.
Quando Pedro morreu fui o primeiro a chegar e foi difícil convencê-la a aceitar a minha ajuda. Foi difícil disfarçar meu desejo e esconder como eu estava feliz por tê-la ao meu lado e o pavor de perder o contato com ela.
Ela estava só, foi a oportunidade de me aproximar dela, quem sabe conquistá-la.
Ela não sabe da minha existência.
Não sabe que vivo solitário na minha casa da serra. Depois da universidade tornei-me oficial do exército e dedico minha vida apenas ao trabalho. 55 anos e um único objetivo: Reunir os códigos. Tornei-me frio e calculista por questões profissionais, minha aparência física atlética e séria, rude, escondem quem realmente sou.
Tem algo muito maior em jogo. Primeiro preciso descobrir o que ela sabe, se ela viu alguém na noite do assassinato.
Sury ficou surpresa com as revelações sobre o segredo que Pedro guardava. Disse que viu um jipe escuro e homens de boina ou bonés saírem da casa dela depois dos tiros. Pedro falou que ela deveria levar um envelope que estava no cofre e sair daquela casa.
Mas agora ela quer saber quem matou Pedro e isso é perigoso demais.
Preciso levá-la para longe da verdade. Preciso envolvê-la na organização “V” e torná-la uma guardiã. Controlar seus passos.
Quero recuperar e tomar para mim os outros três envelopes e ela pode me ajudar muito.
Nos anos em que passei no exército e na guerra aprendi que “um soldado nunca dorme” quando está na guerra. Muito menos diante de uma mulher como Sury.
Estamos instalados na minha casa na serra, aqui é o lugar mais seguro para que o projeto siga sem correr o risco de ser descoberto. A casa fica no alto da montanha e todo e qualquer movimento ou aproximação de estranhos é visível facilmente e podemos nos esconder se necessário, numa sala oculta atrás de uma estante na sala principal.
Sury ainda está silenciosa e distante. Passa horas em seu quarto e quase não conversa comigo.
Após uma longa semana ela aparece na sala, senta no sofá perto da lareira e me diz:
-Quero participar de tudo, não quero apenas saber o que aconteceu.
-Você sabe usar uma arma? Você não tem experiência nenhuma. Seria um risco grande.
-Mike, eu quero aprender tudo. Você pode me ensinar?
Nas semanas seguintes conversamos muito. Treinamos o uso de armas, a observar cada objeto dentro de uma sala, a interpretar olhares e movimentos.
Passamos a usar o nome que ela vai usar nas missões: Gueixa.
Quando a chamo assim ela já responde como se este tivesse sido sempre seu nome.
Aprendeu a maquiar-se como uma gueixa, a movimentar-se lentamente, aprendeu a deixar o corpo e os olhos falarem por ela.
Está pronta.
Foram muito difíceis todos esses dias a sós com ela, em muitos momentos nossos corpos se chocavam suados, ofegantes, mas ela fingia ignorar meu coração acelerado e e meus lábios sedentos por um beijo dela.
Planejamos a primeira missão bebendo um vinho em frente á lareira, ela sentada sobre o tapete de peles, os cabelos presos levemente, alguns fios caindo sobre o rosto e um roupão vermelho que lhe cobria todo o corpo e que me fazia imaginar se ela vestia algo por baixo.
Ela sentia os meus olhos e continuava impassível.
-Nossa primeira missão será descobrir se o segundo envelope está em segurança e recuperá-lo imediatamente.
-Sim, mas por onde vamos começar Mike?
-O segundo guardião está muito doente, mora com ele um sobrinho de 25 anos, temo que ele revele ao sobrinho onde está o envelope e antes que seja tarde precisamos agir. Será amanhã.
Você está pronta para sua primeira missão Gueixa?
-Sim, estou pronta.
Senti vontade abraçá-la, dizer-lhe que nada de mal vai acontecer, que eu estarei sempre por perto.
E que farei tudo para que ela seja apenas minha, um dia.
Ela levantou-se e foi para o quarto.
Fiquei sentindo o perfume dela suave e excitante evaporar no ar até sumir completamente.
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