A SABATINA

A SABATINA

VIRGULA 8

Nem mesmo todo alvoroço em que se encontrava a cidade ao aproximar-se a festa do padroeiro São Francisco de Assis, com as barraquinhas, parque de diversão, circo, tourada, rancho alegre, tudo esparramava pela praça num festival de novidades e cores, sempre renovadas a cada nova edição. Todo o agito parecia pequeno comparando com o espetáculo aguardado pelas mulheres, filhas e filhos dos aldeões. A esperada prova oral que Gema vai fazer no Grupo Escolar. É bem verdade que o evento teve de ser adiado, afim de que ela restabelecesse dos ferimentos sofridos. Mas como o que tem data marcada chega, eis que os LIMAS dirigem-se ao local aludido. Sr. Onofre raramente participa dos movimentos escolares, mas desta vez quis ir, colocando terno e gravata. As "falas-juntas" estavam até mais bonitinhas, como se fosse possível fazer milagre, mas com roupas novas e penteadas, nem pareciam as duas capetinhas que viviam infernizando a vida da irmã. Os bebês lindos, De Fátima segura na mão do pai dava os primeiros passos , enquanto Luiz usava como meio de transporte o colo materno, cuja mãe num vestido de seda verde, tinha sua tez morena realçada, cujo brilho é quebrado pelo uso abusivo de pó de arroz. Gema preparada para a ocasião com os caprichos das mãos da Tia Margarida, trajava um lindo vestido feito pela melhor costureira da Capital a Dona Neném Fiori. Ao passar pelas portas de pessoas maledicentes ouvia-se gracejos de pessoas que não sabiam direito de que se tratava, mas que o faziam somente por maldade. Ao entrar no colégio os corredores estavam cheios e na sala onde ela estudava mal a cabia e a seus familiares. Dona Das Dores muita nervosa mais de que do costume chamou a comadre Elza.

-Comadre não tem jeito a menina não vai conseguir responder nada. Mas Gema que estava perto e ouviu respondeu com muita firmeza:

-Vou sim mãe, a prova é de História, mas se quiserem perguntar sobre Geografia, Português, Religião, dentro de qualquer ponto que foi dado este ano, podem fazer, só não vou falar sobre Matemática, que não sei quase nada não. Sentou-se em frente as cinco examinadoras aguardando que viessem as perguntas. Mandaram tirar o número do ponto.

-Não precisa tirar o ponto não. Perguntem o que quiserem. Estou preparada.

- "Que menina atrevida".

- "Lê-se no ar o pensamento coletivo, parece estar escrito na cara de todas as pessoas que lhe tem inveja".

A primeira a perguntar foi sobre História do Brasil. Respondeu certo, também da segunda a quinta, resolveram mudar para Geografia, respondeu, Religião também, algumas perguntas de tabuada, respondeu todas certas. Algumas mães ensaiavam até um tímido aplauso.

-Gente eu quero calma. Falou a Diretora, a única coisa que tenho de falar é parabéns, a nota máxima que posso lhe dar é dez, dez com louvor.

A família orgulhava-se de sua rebenta, enquanto as invejosas sussurravam:

-Agora sim que ela vai arribitar o nariz mesmo, metida.

A sua mãe, passando o bebê para a tia Margarida pediu a palavra que lhe foi concedida.

-Gente a minha filha não precisava colar, foi mania de perfecsionismo, ela gosta de tudo certinho. Vão lá na minha casa que vocês vão ver, tudo arrumadinho, limpinho ela olha e cuida de tudo. Agora aqui no colégio, ou ali na rua, não gostam dela não, mas o que eu posso fazer, ela assimila tudo com muita facilidade. Gosta de ler de tudo. Brinca como outra criança qualquer, corre, canta e chora, é gente como qualquer um. Só qur Deus lhe deu o dom divino de guardar as coisas na cabeça, sabendo explicar tudo direitinho, como eu explico, mesmo sendo uma professora leiga, quantos já passaram por minhas mãos, hoje são doutores, veterinários, advogados, médicos. Eu comecei a lecionar aqui na abertura do Grupo, professora nenhuma queria vir para Anicuns, sabem porque? Aqui tinha malária, maleita, até febre amarela, eu vim, ensinei e agora vejam o que fazem com minha filha, humilham-na, espancam-na em praça pública, sabem porque? Ela é bonita, é inteligente e é invejada. Mas não tem nada não, aquela bolsa de estudos que o Governador lhe prometeu, eu não quero, ela vai para a Capital estudar no Santo Agostinho. E por tudo, muito obrigado.

Goiânia, 21 de JUNHO de 2010.

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 21/06/2010
Código do texto: T2332021
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