De volta à vida

E quando pensava que estivesse morto e enterrado no cemitério das lembranças, de onde só deveria retornar quando fosse solenemente convocado para, silencioso e impotente, dar seu testemunho de vida (ou de morte) eis que, num assomo, retorna mais vivo do que antes. E voltou querendo o lugar que poderia ter sido seu de direito mas por covardia, medo ou indecisão, acabou cedendo para quem não hesitou em se arriscar.

Uma mensagem simples que bem poderia ter retornado, mesmo com atraso de tantas luas, na mesma garrafa de náufrago que um dia, na desesperança do amor renegado, foi jogada ao mar das ilusões num apelo de quem se viu perdido no emaranhado de pensamentos confusos e desencontrados, na busca de respostas que nunca lhes foram dadas.

Essa pequena e aparentemente inocente mensagem teve o poder de destravar a porta do baú das lembranças e no rastro das fantasias que se deixaram à mostra uma vez que nunca estiveram guardadas por inteiro, saltaram para fora e, como almas penadas, que teimam em não morrer, voltaram a rondar atormentando e fazendo renascer tudo que se queria morto e enterrado.

E esse fantasma é tão forte que a realidade mais palpável não consegue superá-lo e ele a tudo se impõe e suplanta. Não adianta apagar a luz, fechar os olhos, tentar fingir que tudo ficou no passado.

Diante de tudo o pensamento fica martelando procurando uma forma de apressar as coisas para um novo encontro. Uma chance de retomar de onde parou para mudar o final da história na sua segunda edição.

Reescrever o roteiro e mudar a sequência das cenas para levar a um final feliz. Aquela inesperada abordagem parecia coisa de sonho de onde não queria e ao mesmo tempo temia acordar a qualquer momento, para cair num pesadelo real e não desejado. Nesse caso todo cuidado é pouco para não voltar a se machucar. Afinal, é preciso navegar.

Alena Ajira
Enviado por Alena Ajira em 18/06/2010
Reeditado em 24/06/2015
Código do texto: T2326862
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