O Conde Schucrutti - Infantil - Lia de Sá leitão - Nova postagem 16/06/2010

Lia Lúcia Almeida de Sá Leitão – 12/12/98

Pois é, certo dia eu estava sentada na varanda da minha ca-

as, e, um bichinho muito veloz chamou minha atenção.

Era um morcego. Mas, não era qualquer morcego, esse era

robusto, e ágil, como sempre gostei de dar nome às coisas e

aos seres, e é para isso que servem os substantivos, batizei o

morcego de Conde Schucurtti . Era divertido ficar assistindo as peripércias das acrobacias no ar, a noite estava sugando do sol os seus últimos raios, isso dava um colorido especial de azul, tons lilases e um dourado brasil no céu quase sem nuvens. Deus compôs um poema naquele instante.

Não tardou em chegar a noite, mas do outro lado, imperio-

sa, redonda, transparente, crescia a Lua rasgando os corações

dos apaixonados. Prateando a noite, as silhuetas tornavam-se mais nítidas e Schucritti parecia entender que um par de olhos seguiam seu vôo por toda a parte.

Num passe de mágica o morcego desapareceu depois de um rasante sobre a minha cabeça, quase morro de susto, mas, não perdi a pose, demonstrar medo seria deixa o outro com muita força, é a mesma coisa de ter medo de careta.

Procurei pelo ar alguns segundos e o mamífero tinha partido para seus passeios noturnos, pensei cá com meus lacinhos. Como será a vida de um morcego? Pouco se fala nos costumes desses animais, uns dizem que são ratinhos com asas, outros que só estão no mundo para estragar as frutas, ainda há aqueles que juram que todo morcego é um filhote do Conde Drácula; bastando uma lua cheia para se transformar em vampiro.

Um sol dourando o mundo com tons nunca vistos antes e um relógio marcando meia noite. E foi desse jeito que a coisa começou com o personagem da nossa história.

Muito estranho! O relógio marcava meia noite e o Sol estava mergulhando na noite, um frio de tremer a alma, percorria o corpo, lá vem gripe, o tempo foi ficando nebuloso, será que ia desmaiar! Meus olhos pareciam brincar com a realidade das coisas, quando olhava a rua, era uma beleza! Quando olhava para o terraço, faltavam apenas raios e trovões e neve, tudo gelando. Amedrontada quando as luzes começaram a piscar, piscar e piscar.

Na rua, tudo tranqüilo, as pessoas passavam e nem tomavam conhecimento do que acontecia naquele local. Imaginei o meu juízo voando nas asas daquele morcego. Depois encarei com positividade, NADA DISSO É VERDADEIRO! Vou beber água com açúcar para aclamar. Levantei-me em direção a sala para depois chegar n cozinha.

Que susto! Desciam do teto teias gigantes de aranha e centopéias andavam por todas as paredes, o pisca pisca das luzes davam um tom assustador de masmorra, uma fumaça azulada entrava em lufadas pelas janelas.

Pensei sair dali correndo, mas as pernas faltaram, não conseguia dar um passo, nem para frente nem para trás e foi nesse instante que um FLAPT, FLAPT, FLAPT voou razante pelo corredor, levantei a vista: lá estava aquela figura na minha frente abanando as mãos como quem dá tchau de uma vez só. Continuei imóvel, dessa vez nem voz eu encontrei para dar um grito!

 Por favor, não fique assustada! não fique assustada! ainda não sei o que aconteceu comi-go, disse o jovem olhando nos meus olhos.

 Estava ali saboreando uma carambola e cai da árvore com essa forma de gente, eu não quero ser gente, gosto de ser um morcego, livre!

Quase eu morro do susto, aquele era Schucrutti!

 Acho que você está sentindo a mesma coisa que eu, não é? MEDO?!?

 Que bom você entende o que eu falo!

 Mas posso chamá-lo por Schucrutti? E tem mais, você não é um simples morcego, você é um Vampiro, Vampiro que morde o pescoço do povo e bebe sangue de gente!

 Hei! deixe de falar bobices, eu não faço nada disso, se disser que mordi alguém eu nego! mas, pensando bem, Schucrutti é um lindo nome para um morcego sem nome! Gostei!

 Não é por nada não, mas você tá mais para um vampirão.

 Adão? que nome cafona! esse é da idade da pedra! nem meus avós das cavernas gosta-riam de ser Adão?!?!

 Adão era o nome do primeiro homem e ele andava assim como você está agora, pelado, nuzinho!

 Xi! falha técnica da bruxaria. Transforma um solitário morcego num vampiropeladão.

E o nome que você escolheu para mim; fica aonde nessa história maluca?

 Já sei, limpe todas essas bagunças, tire todos esses insetos horrorosos, livre-se desse ar de sepultura, jogue todos esses esqueletos fora, faça a energia elétrica voltar rapidinho e eu ajudo você a ser Schucrutti.

 Lá vem ordens, até parece a minha mãe com essas coisas de limpeza, só falta agora mandar eu tomar um banho, se pensar, digo logo que não vou, gosto do meu cheiro de mofo e masmorra.

 Veremos!.

Enquanto Schucrutti, ainda não era Schucrutti de verdade e sim vampiropeladão limpava toda bagunça, fui no quarto dos meus filhos e procurei umas roupas bem transadas para o mais recente protegido.

 Terminei! A sua casa agora está uma jóia.

 Hum, que cheiro é esse?

 Não vem não! é o meu perfume favorito.

 Tome uma toalha, um sabonete, e, chispe para o banheiro, escove até a alma para sair a sujeira!

 Vou não!

 Vai sim! Se não, batizo você como Sujeirão. e não dou as roupas que escolhi.

 Está bom! Tá bom, eu vou tomar só esse banho!

Meninos! quando o Sujeirão saiu do banheiro, cheiroso, vestido à moda. Eu não acreditei que era a mesma criatura!

 Schucrutti! você está um gato!

 Gato não! odeio gatos, estou um morcegão! O que vamos fazer agora?

 Você quer fazer o quê?

 Gostei muito de você, mas tenho a impressão que você tem idade de ser a minha avó. Eu quero conhecer umas menininhas bem bonitonas e novinhas. Quando eu era morcego, todas as vezes que passava, sobrevoava, aquela casa dali da esquina, e ficava de olho no casal de namorados, ele é um rapaz assim como eu, bonito, cheiroso, elegante e parece ter a minha idade, uns dezessete anos. Ela é mais nova, deve ter uns quinze anos; no momento só quero saber de juventude e festas, depois penso em algo mais sério.

 Ë, você tem razão. Eu tenho idade de ser sua mãe, avó nem pensar! Vou levá-lo para uma festa bem legal.

Tomei um banho, dei boas gargalhadas escondidas do medo que tive anteriormente por causa de um vampirinho adolescente. Quando terminei a arrumação: batom, perfume, o tira roupa veste roupa, cheguei na sala, lá estava ele querendo pentear os cabelos, mas não acertava, não podia se ver diante do espelho. Perguntei se queria ajuda e vi que sim! Penteei aqueles cabelos lisos e cheios de gel e saímos.

Rodamos todas as festas possíveis da cidade, ninguém queria dançar com Chucrutti, e ele foi ficando muito entristecido. Chegou a pedir para voltar. Queria ir para casa. Todas as moças diziam as mesmas coisas: “Eu não quero dançar, você é gelado! parece mais com um vampiro!” Fui ficando sem opções, depois não restava absolutamente nada! Ele foi diminuindo, diminuindo, e voltou a ser um morceguinho grudado no banco do carro.

 Schucrutti! Não fique assim volte a ser um belo rapazinho. Eu acho que encontrei a última solução. Logo ele reanimou.

 Qual?

 Qual? Ora, onde é que podemos encontrar boas frutas quando você não estiver com vontade de ser Schucrutti? Quando você estiver cansado da vida de morcego e quiser andar como adolescente sem ninguém tirar gracinhas , nem achar estranho ser vampiro?

Vamos a um cemitério! Vamos para lá, agora! Quem sabe numa voltinha, você não vai encontrar uma companhia da sua idade? Você não acha que essa é uma boa idéia?

 Vamos.

Dei meia volta no carro e fomos em direção ao cemitério mais famoso da cidade. Quando chegamos lá, percebi algo diferente, mas não dava para ver bem o que era, ele ficou animadíssimo. Parei em frente ao portão principal. e perguntei o que o fazia tão feliz. Ele respondeu num sorriso de vampiro, é uma festa! e só tem jovens, muita gente bonita! eu vou ficar por aqui. Mas, você não conhece ninguém daqui, ele olhou pra mim, entendeu a minha pergunta e respondeu; eles parecem comigo! Eu voltei a perguntar se ele queria que eu voltasse para buscá-lo mais tarde, afinal de contas ele era um adolescente e morava na garagem da minha casa. Ele, inclinou-se até o meu rosto, deu-me um beijo no rosto e disse saindo do carro; não se preocupe, aqui estarei bem.

Fiquei tranqüila, liguei o carro e disparei com velocidade , não era mais medo porque estava na frente do cemitério, era porque o local era perigoso por causa da violência dos vivos àquela hora da noite.

Cheguei finalmente em casa. Meses se passaram, anos, e numa bela noite de luar senti saudades do meu amiguinho, quantos anos que ele não dava notícia, nesse dia minha casa estava cheia de crianças atentas nas histórias que narrava para elas.

Quando todos foram embora e eu já estava de pijamas para dormir, ouvi um TOC-TOC-TOC na janela do meu quarto, imaginei o pior, segurei o telefone e pensei ligar imediatamente para a polícia quando olhei direito estavam lá dois pontinhos vermelhos que brilhavam do outro lado através do vidro da janela, e depois mais dois pontinhos iguais aos primeiros. Meu coração encheu de alegria! cuidadosamente, abri a janela e os dois mamíferos alados entraram, FALPT, FALPT, FLAPT, FLAPT, era Schucrutti e a sua namoradinha Helga. Na verdade, ele se tornara um grande e atlético vampiro, eu estava orgulhosa de tão belo rapaz, ela era uma linda e jovem vampira. Eles queriam entregar-me o convite de casamento. E contaram-me que naquela mesma noite da festa ficaram apaixonados e como ainda não tinham idade para assumirem compromissos mais sérios, resolveram estudar, agora já estavam formados. Ele era médico ortopedista e ela era dentista, já estavam adultos, e resolveram casar. Rimos muito, colocamos todas as nossas fofocas em dia. Eu desejei felicidades para os noivos e garanti presença na festança.

Quando abracei Schucrutti e Helga, desejei muitos vampirinhos. Eles deram-me um beijo no rosto, eu abri a janela e eles voaram.

Fui ao casamento, lindo!

Tempos depois, nasceu o primeiro filhote, chama-se Stwart e é o meu afilhado,

todas as férias ele vem para a minha casa, aloja-se no mesmo pé de carambolas junta da garagem. Era o local preferido pelo pai dele, mas, é mais sabido, quando o tempo esfria, ou existe uma ameaça de chuva, ele não se faz de forte, pede logo uma caminha bem quentinha e dorme o dia todo no quente do quarto de hospede.

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 16/06/2010
Código do texto: T2323080
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