O Caminho do Meio

Olhar cáustico, faces de brisas, cabelos de uma lisura quase melancólica. Virgínia tinha a impaciência primaveril das estrelas e o encanto sutil dos silêncios. Era uma jovem muito afoita, desejava tudo a um só tempo como se o mundo pudesse se abrir em crepúsculos e persistir em améns .

Em seu peito os desejos vibravam como hastes finas no hálito dos vendavais; sua fome clamava por chocolate recheado com luar, sua sede, pelo alivio inopinado e tranqüilo das nuvens entiaradas com arco- íris. Sua vaidade, entretanto, eram roupas bordadas com maresias, ocasos e suspiros poéticos.

O único elo que Virginia mantinha com a realidade era através de seu pai Augusto, homem brando, centrado e já avançado em anos.Este, pouco repousava a firmeza absoluta que os conduzia, sempre, pelos caminhos do meio, como se as margens fossem flechas memorando castigos indesejados a quem se ama. Dentro dos limites que cada um impunha ao outro e, apesar da ilusão desmedida de Virginia, pareciam felizes.

Um dia, em sua inconsciência ardente e inefável , ela desejou, com toda a força de seu espírito útopista , a liberdade do tempo em seu inexorável e sempre novo passar, a ostentação dos vôos e a lívida estranheza do primeiro pousar. Queria provar os extremos e degustar suas conseqüências com soltura plena. Num rompante, despojou-se dos braços protetores do pai , estava só e entregue a si mesma com a incumbência de planear seu próprio destino. Correr, galgar horizontes numa seqüência infinda , buscava mas já não sabia bem o quê .

Subitamente um medo, uma inércia incoercível. Suas forças sombreavam rumo a atrofias irrevogáveis , sinistras e solitárias do desamparo e do desconhecimento das coisas reais.

Seu olhar agora era trêmulo, num misto de frio e saudade . Seus sonhos vegetavam, aprazivelmente, na tentativa de um retorno ao passado,mas já era tarde, e afinal, uma vida só não basta à impetuosidade juvenil da liberdade e aos laços ditosos do amor.

Denise Reis