Confissão final.
- Olavo, preciso falar contigo, meu bem.
- O marido, lendo o jornal, não está nada a fim de conversa naquele momento, puxa, nem durante o café da manhã pode ter paz.
- Tu sabes que de uns tempos para cá ando pensando...
- Para! Chega de conversa fiada, estou cansado de teus pensamentos, me deixa cá com os meus, com as contas para pagar, o condomínio que subiu os juros lá nas alturas...
- Mas meu bem...
Neste ponto da conversa, ele trinca os dentes muito irritado. Resolve calar e fingir que está prestando atenção.
- Ok, fala logo mulher! Ele sabe que ela fica extremamente irritada quando ele se dirige a ela desta maneira, mas cansou, não está mais preocupado com nada que se refira a ela. Pensando bem, uma separação não seria nada mal.
Em sua fúria cega, não percebe os olhos tristes e marejados da companheira de mais de vinte anos, sua esposa fiel e amorosa. Acostumara com o seu jeito submisso de ser.
Afinal, ela sempre estaria ali, ao alcance de sua mão e de suas palavras ríspidas.
- ...então ontem Marina foi ao médico comigo, imaginas Olavo, que quando abriu os exames...
Absorto, Olavo mal ouve algo como Marina me acompanhou, e continua pensando no longo dia que tem pela frente.
Marina é outra preocupação, Tânia nem percebe, vive no mundo da lua, entre meditações e aulas de sei lá o que...
Todavia ele anda preocupado com a filha. Desconfia de suas amigas e amigos, gente mais esquisita! Tânia defende, diz que é uma fase, vai passar...
- E ai, responde ele, o que aconteceu depois? E volta a mergulhar em seus pensamentos. Planeja o dia no escritório, o encontro com os clientes e outros afazeres.
-... Ele disse que na minha idade, continua Tânia, sem perceber a distância quase que visível entre os dois.
Ele ouve algo como idade, lembra quando se conheceram, ela tão jovem, cheia de vida, exuberante e apaixonada! O casamento não demorou muito para acontecer.
E uma nova vida, cheia de perspectivas abria-se diante de seu olhar ambicioso.
Queria o melhor para a sua família.
- Certo, e depois? Ele pergunta, fingindo interesse na conversa.
-... Câncer.
Isto ele ouvira muito bem.
Como um soco no estômago, volta o olhar para sua mulher, linda e meiga como sempre.
O grande homem desaba e chora.
- Tânia, podes me contar direito esta história?
- Ora Olavo, já contei tudo. Tenho pouco tempo de vida, e me preocupo contigo, com nossa filha, responde lábios trêmulos, olhos marejados.
Olavo desesperado, chorando pede:
- Tânia meu amor, por favor, me fala de ti, me fala tudo o que querias saber, vamos recuperar nossas vidas, não vou permitir que nada te aconteça, por favor não me deixe!
O homem parece virar uma criança indefesa, a mulher apenas o abraça em silêncio.
Nada mais faz sentido.
Planos adiados, sonhos abortados.
Tempo desperdiçado...