Armadilhas de um Sedutor 2

Ele tem o tipo físico de homem que me atrai, chama minha atenção. Mexe comigo. Quando o vi chegando senti imediatamente um arrepio, mas faço de conta que não percebo a presença dele.

Ele também me vê, tanto que uma hora depois telefonou.

Fiquei feliz, ego inflado.

Quem é a caça? Quem é o caçador?

Marcamos um jantar num restaurante muito diferente, um antigo vagão de trem.

Agora as dúvidas de toda mulher no primeiro encontro:

-O que vestir, que sandália usar?

Ele aparece sempre bem vestido quando vai até a empresa em que trabalho resolver algum coisa ou inventa alguma coisa para ir até lá me ver? Delicio-me com essas hipóteses.

Pronto decidi. Vestido preto junto ao corpo, sandália também preta, salto e tiras finas que deixam os pés quase nus e levemente curvados, sinuosos. Perfume Poison.

Ansiedade.

Ele vem, não vem. O que vai acontecer depois?

Uma coisa eu sei: - Quero-o!

Um pouco atrasado, primeiro defeito. Nunca deixe uma mulher esperando. Erro fatal.

Ligou avisando que está esperando no estacionamento. Demorei um pouco para dar a entender que ainda não estava pronta.

Quando chego ao estacionamento fico perplexa.

Pensei:

-Mas o que é isso? Não acredito no que estou vendo.

O homem trajava nada mais nada menos que o traje tradicional do malandro carioca.

Chapéu panamá, camisa de listras grandes verde e branco, calça branca justa, sapatos brancos e para completar uma Brasília amarela caindo aos pedaços.

Chegamos ao restaurante Vagão. Ele sempre querendo agradar, muito falante, olhos azuis estonteantes.

Eu sempre delicada e simpática tentando disfarçar, mas estava incomodada com tudo aquilo. Havia algo errado com aquele homem. As roupas, o carro, chegar atrasado.

Comigo também estava tudo errado. O vestido justo, o salto alto, nada tinha a ver com aquele lugar, verão, calor e eu tentando sorrir para ele, sensual, enquanto milhares de mosquitos devoravam minhas pernas debaixo da mesa.

Uma mulher pode ser sensual sentindo picada de mosquitos sugando seu sangue quente e fresco? Impossível!

Queria sumir. Sabe quando você deseja ter o direito de fazer um pedido? Eu faria um:

-Quero minha cama, minha casa, socorro!

Terminamos o jantar. Ele me levou para casa.

No carro para fechar a noite com chave de ouro ele faz uma confissão (fatal):

-Olha, já era para ter falado, mas não queria falar antes de jantar com você, conhecer você melhor. Eu tive receio que você não aceitasse meu convite se soubesse que eu sou casado.

Pensei: Calma mulher. Classe.

Ele foi embora e eu subi para o apartamento, tomei um banho, passei remédio nas pernas, mas não conseguia deixar de me sentir ridícula.

-Como pude me deixar enganar assim? Que idiota que eu fui.

No dia seguinte ele ligou. Fui simpática, recusei o convite para o cinema.

Na semana seguinte, já sem paciência, não atendi mais o telefone.

Na terceira semana ele apareceu no meu prédio. A primeira vez eu atendi o interfone, desconfiada fiz de conta que era outra pessoa:

-Quem quer falar com ela? Não, ela não está. Você quer deixar recado?

Ninguém respondeu. Foi embora. Não vai me procurar mais.

Na noite de sexta-feira sempre saio para dançar com minhas amigas. Para recarregar as energias, para esquecer os problemas da semana.

Minha amiga já está pronta. Estou calçando a sandália quando a campainha toca.

Achei estranho, ninguém sobe sem ser avisado. Deve ser algum vizinho.

Quando chego á porta e vejo quem está do outro lado me afasto da porta.

Só o ouço dizer:

“Devassa!

Eu sei que você está em casa. Você não tem coração? Não saio daqui sem falar com você. Abra essa droga de porta! Abra ou quebro tudo. Abra por favor. Eu preciso ver você. ”

Quando será que um homem se dá conta de que ele não está no controle?

Que momento é este em que ele perde a cabeça a razão e até a vergonha e o orgulho próprio ferido?

Silêncio! Ele foi embora.

Sentimento de culpa.

Preciso de um drink. Um Dry Martini com uma cereja vermelha para esquecer o episódio lamentável.

Uma hora depois estamos chegando ao clube. De longe vejo uma Cherokee preta com a porta do carona aberta, som ligado e dois homens conversando e bebendo.

Um deles é Jorge.

Eu sabia. A Brasília e aquela roupa “discretíssima” eram para não chamar atenção. Engraçado.

Sorri.

Desistimos do clube. Fomos para um barzinho.

Jorge desistiu de sair comigo, quando nos encontramos casualmente ele apenas me olha.

Poderia ser diferente essa história?

Sim. Poderia.