Fim da Linha
Lá estava eu a caminhar pela estrada, o sol era forte, devia estar fazendo mais ou menos uns 40°C, meus pés estavam me matando, meu sapato de couro negro, impecavelmente engraxado estava começando a incomodar os meus pés. Parei diante de uma verdadeira encruzilhada, haviam quatro caminhos pelos quais eu poderia prosseguir. Ao sul estava o que eu acabava de ter passado, apenas cascalho solto, sem água, sem habitação, sem nada.
Ao norte avistava-se uma nuvem negra, talvez fosse a chuva, mas, arranha-céus cobriam toda aquela região, poderia ser então uma metrópole movimentada, com carros andando de um lado para outro, pessoas que passariam por você e você sequer seria notado, você poderia ser mais um em meio àquela multidão, então talvez ao norte não seria o caminho exato. Ao leste avistava um enorme campo, florido, em que uma enorme propriedade de pedras sobrepostas calmamente ilustrava um cenário belo, porém moribundo, era como se algum fantasma rondasse aquele lugar, talvez lá eu também não fosse feliz. Decidi seguir ao leste, onde nada havia, quando caminhei até uma distância de mais de um quilômetro, deparei-me com um vale, um precipício, atirei-me de lá sem medo, a queda fora livre, meu corpo parecia flutuar, senti-me livre das amarras da vida, que lhe limita.
Naquele momento da queda, senti-me livre, cheguei a conclusão de que o que chamamos de "vida" não pasa de uma sobrevivência mesquinha. Dizem que a vida é o maior dom que Deus nos deu. Dizem que é bom estar vivo, mas, não, o gostinho dos segundos antes do encontro com a morte era realmente a vida. Não temos a real noção desta, nunca teremos, somente quando a morte estiver diante de nossos olhos. Você respirará fundo e irá dizer "este ar é de fato, a vida".
A vida é uma batalha, a vida nos faz nadar, nadar, e depois de lutarmos muito contra a tormenta, vem algo e nos manda pro fundo do mar, nos deixando impotentes. A única coisa que levamos da vida são as pessoas, os valores, os ensinamentos, mas, será mesmo? Não sabemos para onde vamos quando estivermos mortos, talvez iremos mergulhar num mar negro, profundo, talvez um absal de nossa mente, onde não poderemos usar nada disso que conquistamos em vida.
O intuito desse texto confuso é perguntar qual o sentido de vivermos tanto, batalharmos tanto, sendo que no fim iremos parar todos dentro de uma cova, onde serão lançadas pás de terra vermelha em nossa face, ou ainda, entrarmos em algum lugar para sermos incendiados e virarmos apenas um baú cheio de cinzas.
Mesmo assim, temos a vida e infelizmente precisamos vivê-la da maneira mais viável possível. Temos que sobreviver à vida, essa é a realidade.