Não foi desta vez.
Ele corre ofegante e ansioso.
Corre de seus perseguidores, corre da vida que corre mais do que ele pode suportar.
Volta e meia olha para trás. Eles estão lá, correndo também.
Teresa, onde está Teresa que não aparece para socorrê-lo do perigo iminente?
Em sua mente vem a imagem de sua mãe, procura reter esta imagem na mente, mas ela some como todas as outras.
Mãe! Chora.
Corre cada vez mais, esbarra em pessoas, salta obstáculos.
O coração parece sufocar, o ar penetra gélido causando ardência no nariz e na garganta ressequida.
Eles estão cada vez mais perto.
Corre mais ainda, não será desta vez, pensa ele.
As imagens teimam em surgir e desaparecer de sua mente. Agora é o pai que lhe sorri complacente, e desaparece como fumaça.
- Antonio, eu quero balas, fala a criança bela que o fita inocentemente.
- Cala a boca que agora não tenho tempo, grita ele correndo mais ainda.
A criança vai embora chorando, some como todos os outros.
- Antonio, não vais me dar um beijo? Diz a namorada enamorada.
- Não posso, não vês que eles estão cada vez mais perto?
- Mas Antônio, vais me deixar logo agora?
- Volto para te buscar, jamais te abandonarei.
- Volta agora, Antônio, volta, diz ela chorando. Volta, volta...
- Volta Antônio meu amor, volta...
- Papai, porque estás correndo?
- Agora não posso explicar meu filho, eles estão perto.
O ar começa a faltar.
A cabeça gira com o movimento da terra e dos ventos.
Só mais um pouco, pensa ele aflito, estou quase chegando.
Cai de joelhos chorando e rindo.
Os médicos da clinica psiquiátrica chegam a tempo de aplicar a injeção.
O alivio provisório.
Não foi desta vez.