LA MANZANA

De onde veio essa súbita vontade de tomar o que é seu, Mercedez? Quantas vezes mais — você me pergunta — eu errarei seu nome? Não sei. Esqueço. Seu nome, o produto do furto escondido entre suas vestes. Devolva-me.

É estranho, eu sei! Em Guadalajara me disse bem de perto: “La isla!”, olhei e não vi. Além das nuvens, tentei. Um desperdício porque seus gestos são estrangeiros, não compreendo tuas mãos.

Tentei ainda mirar o horizonte e fazia muito frio. O que uma coisa tem a ver com a outra? Procurava a isla. Longe. Puxou meu rosto para perto do seu, Esperanza. Disse-me tantas coisas que esqueci. Tentou mostrar tanto que até titubeei.

Ainda mais isso: o produto do furto. Sob suas vestes. Teu corpo, sob camadas de tecido desposado. Vestidos. Brancas nuvens. Bruma na isla.

Há muito, tanto, que não sei mais. Confesso distante.

Mordidas. Malora. Memórias.

Um beijo catalão. Viajei tanto para ouvi-lo, percorri montanhas, Pirineus, touradas. Engana-me com o tecido vermelho de suas polleras, lliclla. Olhando bem, ao norte, vislumbro os apalaches. Não está. Ou me escondo. Fugimos.

Numa árvore em Ushuaia a vi perdida, comendo o proibido austral, extremo. Tão distante. Tamanha procura. Excessivamente romântico. Frio o teu rosto. La isla grande.

Teu nome é América. Lembro. Procurei. Soroche. Mastigamos coca. Levantamos voo. Flor de la edad. Manzanas nos lábios. Mordidas. Malora. Memórias de seu gosto castellano. Pelirroja Mercedez.

Fabiano Rodrigues
Enviado por Fabiano Rodrigues em 07/06/2010
Reeditado em 07/06/2010
Código do texto: T2304848
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