RITMO, EQUILIBRIO E HUMILDADE

Um dia, após uma partida de futebol com amigos, onde fui o destaque marcando inclusive dois gols(modéstia a parte eu jogo um bolão), meu filho, depois de ver meus amigos me cumprimentarem e me elogiarem. Quando estávamos indo para casa me perguntou:
Pai, como posso jogar assim como você?
Naquele momento, podia esbanjar minha vaidade e meu orgulho. Falar-lhe de técnicas, táticas, fundamentos mil. Mas alguma coisa naqueles olhos de dez anos de idade me pedia apenas um caminho. Talvez a resposta que procurasse não seria exatamente a respeito de futebol. Mas era a pergunta que ele conseguia fazer, naquele momento. Parei o carro em uma praça muito bonita e singela que apareceu como por encanto a nossas vistas(acho que o universo conspira). Saímos do carro e sentamos em uma banco daquela praça.
Fiquei em silencio alguns instantes e vi que isto lhe causou enorme aflição. Fiz de propósito. Ao fim do martírio silencioso falei três palavras: ritmo, equilíbrio e humildade.
Então, diante daqueles olhos imensos de curiosidade. Comecei minha peregrinação pela pequena mente que se abria.
Cada passo dado requer um ritmo
Ele nos levara ao caminho necessário
Seja para nosso amanhecer
Seja para nosso calvário
Cabe a nós entendermos e decidirmos
Qual ritmo seguir
O da loucura desenfreada
Que nos leva ao precipício
O da letargia adormecida
Que nos cristalizara pelo caminho
Ou aquele que nos fará apreciar
A estrada a seguir
A leveza da bailarina
A ginga do jogador
Ambas possuem o mesmo intuito
Fazer viver o momento
Sinta o ritmo das coisas ao teu redor
Veja a intenção de cada ritmo
Cada corpo, criatura, objeto
Possui seu ritmo necessário
Perceba-o, deixe-se perceber;
Mescle esta percepção ao equilíbrio
Entenda seu eixo, seu local
Saiba virar o pescoço quando preciso
Amoleça as cadeiras na hora certa
Enrijeça quando estiver convicto
Mas solte logo em seguida
Como uma pipa no ar
De corda mas puxe
Como uma vara de pescar
De corda, mas puxe
Eis o principio das coisas no mundo
Ritmo e equilíbrio
Neste instante parei e emudeci novamente. Deixei que minhas palavras ecoassem em seu crânio e em sua alma. Que ele saboreasse e guspisse o excesso, pois mesmo que eu falasse mil vezes, somente aquilo que o tacasse naquele momento lhe impregnaria o espírito.
Então, após alguns minutos de silencio dele. Sua boca fez a pergunta que eu esperava e que faltava.
“Mas pai, e a humildade?”
Ela servirá para você entender que apesar de tudo
De equilíbrio, ritmo e tudo mais
Haverá um momento que alguém será melhor que você
Que a vitória lhe faltará
Que outro perceberá antes de você perceber
O seu ritmo, sua intenção
Assim caminha á vida
Hoje driblei alguns
Amanhã serei driblado
Entender e acatar este princípio
É ter a humildade de aceitar seus limites
Aceitando-os, poderá ultrapassa-los.

Deixei o silêncio governar novamente e ficamos parados ali a degustar nossas sabedorias e ignorâncias.
Depois de algum tempo. Interrompi aquele dialogo de mudos e lhe disse afinal
Mas se quiser, amanhã podemos treinar lá no campinho na frente de casa alguns fundamentos, É sempre bom.
Valeu pai!


Ita poeta
Enviado por Ita poeta em 06/06/2010
Reeditado em 01/02/2012
Código do texto: T2302635
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